quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Berlim... terra de gente sofrida

Deixando Praga, nosso destino foi Berlim. Durante o tempo de viagem, dei continuidade à leitura do livro Lutero, de A. Saussure (por três capítulos não terminei). Novamente, a diferença entre a República Tcheca e, desta vez, a Alemanha é perceptível. Depois de cruzada a fronteira, as construções ficaram maiores e muito mais conservadas (especialmente nos arredores de Dresden). Tendo desembarcado na estação central de Berlim (a maior, mais inteligente e mais moderna que já estive), procuramos o “i” para informações e mapas e seguimos de metrô para o nosso hotel. Era segunda feira, 10 de janeiro.
Com três milhões e quatrocentos mil habitantes, Berlim é a capital da Alemanha. Cortada pelo rio “Spree” (embora o mesmo pareça nada determinar do ponto de vista urbanístico), a cidade é extremamente plana e desenvolvida. Pensando apenas em transporte público, há trem, metrô, tram e ônibus. Semelhante à República Tcheca, a história recente da Alemanha é marcada por intensas mudanças: em 1919, após a derrota na primeira guerra mundial, a república é proclamada; em 1933, sob a liderança de Adolf Hitler, o Partido Nacional-Socialista assume o poder; em 1939, os nazistas invadem a Polônia, dando início à segunda guerra mundial; em 1945, após nova derrota, a Alemanha é dividida pelos aliados; em 1949, o mapa-múndi retrata dois Estados alemães, o Oriental (comunista) e o Ocidental (capitalista); em 1961, o conhecido Muro de Berlim é erguido, ressaltando fisicamente essa divisão; em 1989, vinte e oito anos depois, cai o Muro de Berlim; e em 1990, um ano depois, acontece a reunificação da Alemanha. É válido destacar que quase todas essas mudanças históricas acontecem tendo Berlim como protagonista.
O nosso hotel, Mercure Hotel Berlin Mitte, situa-se na antiga parte ocidental de Berlim. Embora bem localizado (dele é possível conhecer os principais pontos turísticos a pé), seus arredores não são agradáveis aos olhos. Da porta, o que se vê são trilhos suspensos e estacionamentos lotados. Suíte confortável, com som ambiente do metrô passando (mas não incomoda muito). Chama à atenção uma das paredes de fora do hotel toda grafitada (tem até uma índia desenhada ali).
À medida que crescia a vontade de voltar para casa, tentávamos reunir forças para visitar os principais pontos turísticos de Berlim. Na cidade, visitamos a “Potsdamer Platz”, terra de ninguém durante o tempo em que o Muro de Berlim ficou de pé (hoje, centro comercial), o “Berliner Mauer”, pedaços do muro de Muro de Berlim espalhados pela cidade (os paralelepípedos vermelhos por onde o muro passava são muito interessantes), o “Museum Haus am Checkpoint Charlie”, museu dedicado ao Muro de Berlim, a “Alexanderplatz”, praça-coração da cidade, o “Weltzeituhur”, relógio que mostra a hora nas principais cidades do mundo, a “Rotes Rathaus”, a conhecida prefeitura vermelha, o “Brunnen der Völkerfreundschaff”, monumento que celebra a paz entre os povos, “Fernsehturm”, torre com 203,78 metros de altura de onde é possível ter a melhor visão de Berlim (a experiência de comer no restaurante móvel no alto da torre foi bacana), a “Unter den Linden”, principal rua da cidade (liga a Alexanderplatz ao Brandenburger Tor), a “Berliner Dom”, a maior igreja protestante do século XIX, a “Humboldt Universität”, universidade onde estudou Karl Marx, o “Deutsche Staatsoper”, principal teatro da cidade com arquitetura semelhante a de um templo coríntio, o “Brandenburger Tor”, portal utilizado como entrada e saída da cidade (único preservado dos quatorze que existiam), o “Reichstag”, edifício do parlamento alemão, o “Tiergarten”, maravilhoso parque no centro da cidade, o “Neue Wache”, monumento em homenagem aos soldados da primeira guerra mundial, a “Siegessäule”, enorme coluna que marca a vitória prussiana sobre os franceses (entre 1870 e 1871) e a “Gendarmenmarkt”, praça composta por um teatro e duas catedrais idênticas (uma alemã e outra francesa).
Em Berlim tivemos uma discreta, mas importante experiência gastronômica. Comemos “Curry Wurst”, salsicha com mostarda (quando provei essa última, saíram lágrimas dos meus olhos), “Um prato que eu não sei o nome”, carne de porco, batata e repolho (chucrute) e “Tiramisu”, deliciosa torta de café. Além disso, degustamos a “Berliner Weisse”, cerveja misturada com xarope de framboesa (Thaís gostou mais que eu).
O destaque de Berlim vai para o “Topographie des Terrors”, museu que apresenta a história do nazismo. Com bons textos e impactantes fotos, o acervo desse museu cobre o período de 1933 (início da ascensão de Adolf Hitler) a 1945 (fim da segunda guerra mundial). Choca-nos a percepção da maldade humana. Como pode um ser humano mobilizar tantas pessoas para perseguir, gratuitamente, tantos outros seres humanos? Seus alvos principais eram judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e qualquer um que se apresentasse como resistência. No meio dos perseguidos, encontrei uma foto do Dietrich Bonhoeffer. Porém, o que mais me deixou perplexo foi um cartaz onde se encorajava o extermínio de deficientes físicos. O argumento desse cartaz era o seguinte: uma vez que, ao longo de sua vida, um deficiente físico tem um determinado custo para o governo e não produz nada, tal deficiente físico deve ser exterminado. Que Deus tenha misericórdia de Berlim, terra de gente sofrida!
Finalmente, deixamos Berlim na manhã de sexta, 14 de janeiro, em direção à Frankfurt. Das 275 fotos que tirei, 30 estão no meu Facebook.
Luiz Felipe Xavier.

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