quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O Reino de Deus cresce em nós e entre nós

No capítulo 4 do Evangelho de Marcos, encontramos diversas parábolas sobre o Reino de Deus. Parábola é uma estória contada com elementos da vida cotidiana para ilustrar um princípio espiritual. Jesus gostava tanto de parábolas que o evangelista declara: “Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola. Quando, porém, estava a sós com os seus discípulos, explicava-lhes tudo.” (Mc. 4:33-34). Aqui nos deparamos com dois problemas. Primeiro: não temos acesso a todas as explicações de Jesus. Se tivéssemos, a interpretação das parábolas seria muito mais fácil. Segundo: a vida cotidiana de Jesus não é a nossa vida cotidiana. As distâncias que nos separam são enormes.
Diante desses dois problemas, o que podemos fazer? Nós podemos recordar as regras clássicas de interpretação das parábolas. Devemos ler as parábolas a partir dos seus contextos. Se o contexto histórico é a Palestina do século I, o contexto literário é a temática do Reino de Deus. Devemos também ler as parábolas de longe, olhando para o todo. Ou seja, não podemos ler as parábolas de perto, olhando para os detalhes. Devemos ainda ler as parábolas à procura do seu princípio espiritual. Na grande maioria delas, há um só princípio espiritual a ser encontrado.
Com já dito, as parábolas do capítulo 4 de Marcos tratam do Reino de Deus. O Reino de Deus é o governo de Deus. Deus governa de direito sobre toda a sua criação e de fato sobre tudo e sobre todos aqueles que estão sob a sua vontade. Logo, o Reino de Deus já está presente entre nós, mas ainda não em sua plenitude. Em quase tudo, os valores do Reino de Deus são opostos aos valores dos reinos deste mundo. É por isso que aqueles que entram no Reino de Deus pela porta do arrependimento e da fé são transformados, e recebem a missão de transformar o seu entorno. Assim, mesmo que não percebamos, o Reino de Deus está crescendo.
O Reino de Deus está crescendo em nós e entre nós. Em Marcos 4:26-32, encontramos dois aspectos desse crescimento. O primeiro aspecto enfatiza que o crescimento do Reino de Deus é automático (26-29). Este é o princípio espiritual da “Parábola da Semente”. Nessa parábola, Jesus compara o Reino de Deus ao processo agrícola. Como se dá esse processo? Ele inicia-se com a semeadura. Um homem “lança a semente sobre a terra”. O processo continua com o crescimento. Este, por sua vez, pressupõe tempo. As expressões “noite e dia” e “dormindo ou acordado” indicam exatamente isso. O crescimento também é desconhecido pelo homem. A semente germina e cresce “embora ele não saiba como”. O crescimento ainda é automático. Jesus diz: “A terra por si própria produz o grão: primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga.”. No original, a expressão “por si própria” é autômatos, significando “o que move por impulso próprio” ou “o que age sem a instigação ou intervenção de outro”; “automático”. Aqui está o ponto: assim como o crescimento da semente é automático, o crescimento do Reino de Deus é automático. Por fim o processo encerra-se com a colheita. “Logo que o grão fica maduro, o homem lhe passa a foice, porque chegou a colheita.”.
O Reino de Deus cresce automaticamente em nós. Isso porque o Espírito Santo age oculta e poderosamente em nós. Quando isso acontece, nós recebemos o poder que nos capacita à obediência. Aos poucos, a nossa rebeldia dá lugar à submissão e experimentamos a vontade de Deus sendo feita em nós. O Reino de Deus também cresce automaticamente entre nós. Isso porque Deus age oculta e poderosamente entre nós. Muitas vezes nós nos perguntamos: por que as coisas são como são se o Reino de Deus já está presente entre nós? Todavia, a nossa pergunta deveria ser: como seriam as coisas se o Reino de Deus ainda não estivesse presente entre nós? Essa reflexão nos desafia à fé, ao amor e à esperança. Fé que se fundamente na certeza de que Deus está agindo; amor que nos move a agir como Deus está agindo; esperança que nos encoraja a seguir adiante na convicção de que Deus concluirá suas ações. Um dia o seu Reino será pleno.
O segundo aspecto enfatiza que o crescimento do Reino de Deus é grandioso (30-32). Este é o princípio espiritual da “Parábola do Grão de Mostarda”. Nessa parábola, Jesus compara o Reino de Deus ao grão de mostarda, que é a menor das sementes e torna-se a maior das hortaliças. Ele estabelece dois contrastes. O primeiro é entre menor e maior. O grão de mostarda é a “menor semente”. Contudo, torna-se a “maior de todas as hortaliças”. O segundo contraste é entre o pequeno e o grande. O grão de mostarda começa pequeno, cresce e torna-se grande. Tanto no mundo judeu quanto no grego-romano, o grão de mostarda é proverbialmente conhecido pelo seu pequeno tamanho. Entretanto, Jesus afirma que ele fica “com ramos tão grandes que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra”.
O Reino de Deus cresce grandiosamente em nós. Isso porque o Espírito Santo, que age em nós, promove o nosso crescimento espiritual. Crescemos espiritualmente à medida que somos conformados à imagem de Cristo. Esse ser conformado à imagem de Cristo é um processo gradual e progressivo. Tal processo começa com as pequenas transformações e chega às grandes transformações. O Reino de Deus também cresce grandiosamente entre nós. Isso porque Deus, que age entre nós, promove transformação integral. À medida que cresce, o Reino de Deus transforma tudo. Transforma doença em saúde, opressão em libertação, poder em serviço, ignorância em conhecimento, ganância em generosidade, acumulação em partilha, injustiça em justiça, violência em paz, tristeza em alegria, ódio em perdão, morte em vida e muito mais.
Que Deus, por sua maravilhosa graça, faça com que o seu Reino cresça em nós e entre nós!
Luiz Felipe Xavier.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sinais da graça de Deus

Jesus é uma pessoa que, vez por outra, envolve-se em controvérsias. No início do Evangelho de Marcos, encontramos as chamadas “quatro controversas de Cafarnaum” (2:1-3:6). Na primeira, Jesus demonstra que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados. Na segunda, ele demonstra que esta autoridade estende-se ao publicano Levi (ou Mateus) e aos seus amigos. Na terceira, ele demonstra que sua presença é semelhante a uma festa de casamento, quando a alegria é tão grande que não faz sentido jejuar. Na quarta, ele demonstra que é Senhor de tudo, até mesmo do sábado. Logo, Jesus revela-nos um Deus cheio de graça. Mais especificamente em Marcos 2:13-17, essa graça expressa-se através de dois sinais.
O primeiro sinal da graça é a inclusão que chama ao seguimento. Jesus está em Cafarnaum, no lago da Galiléia, ensinando uma grande multidão. Cafarnaum é um povoado modesto, com cerca de 600 a 1.500 habitantes. Em sua maioria, esses habitantes são pescadores e camponeses. Nesse povoado de pescadores e camponeses, há dois tipos de cobradores de impostos: os funcionários da aduana, que cobram das caravanas, e os funcionários do cais, que cobram dos pescadores. Esses cobradores de impostos são conhecidos como “publicanos”. No processo de cobrança de impostos pelos publicanos, há extorsão e enriquecimento ilícito. Assim, os publicanos são funcionários do Império Romano e opressores do povo de Israel. Por isso, um judeu publicano é considerado como um traidor e um inimigo; é odiado e marginalizado.
Ali, em Cafarnaum, Jesus passa pela coletoria de um publicano chamado Levi e lhe diz: “Siga-me”. Imaginemos esta cena... Jesus passa com Simão, André, Tiago e João, pescadores oprimidos que odeiam Levi e, num gesto totalmente inclusivo, o chama ao seguimento. Fato é que, seguindo os passos de Jesus, Levi será totalmente transformado.
Neste singelo “siga-me” de Jesus observamos que a graça de Deus é totalmente inclusiva. Ela alcança todo e qualquer tipo de pessoa. Observamos também que a graça de Deus nos chama ao seguimento de Jesus. Nesse seguimento, todo e qualquer tipo de pessoa pode ser transformado. Isso porque a graça que nos acolhe como somos é incapaz de nos deixar da mesma forma. Ela é uma graça transformadora.
O segundo sinal da graça é o perdão que chama à comunhão. O texto segue e, numa refeição na casa de Levi, muitos publicanos e “pecadores” estão à mesa com Jesus e seus discípulos. Os publicanos nós já conhecemos. Quem são os “pecadores”? Eles são pessoas de má fama, pessoas que se recusam a seguir a lei mosaica, tal como interpretada pelos mestres da lei. Jesus assenta-se à mesa com esses publicanos e “pecadores”. Ser recebido em uma mesa com o propósito de comer com outra pessoa é uma cerimônia ricamente simbólica de amizade, intimidade e unidade. Jesus assenta-se à mesa com este tipo de gente como um amigo. Não é sem razão que ele é chamado de “comilão e beberrão, amigos de publicanos e pecadores” (Lc. 7:34). É muito interessante notar que Jesus é amigo destas pessoas antes mesmo de vê-las transformadas.
Vendo Jesus à mesa com publicanos e “pecadores”, os mestres da lei, que eram fariseus, perguntam aos discípulos dele: “Por que ele come com publicanos e pecadores?”. Os fariseus ou “os separados” concebem a pessoa de Deus como totalmente santo e totalmente separado dos pecadores. Eles esperam por uma grande festa messiânica, da qual participarão somente os separados dos pecados e dos pecadores no tempo presente. Para os fariseus, este banquete final simboliza a grande salvação de Israel. Assim sendo, ouvindo a pergunta desses mestres da lei, Jesus afirma que não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ele diz também que não vem chamar os justos, porém, os pecadores. Os que têm saúde são aqueles que se consideram justos ao passo que os doentes são aqueles que se consideram pecadores. Para esses doentes-pecadores, e só para eles, há perdão e comunhão. Então, Jesus está oferecendo o banquete da salvação aos marginalizados pelos religiosos do seu tempo.
Neste simbólico assentar-se à mesa de Jesus, observamos que a graça de Deus é totalmente perdoadora. Ela perdoa todo e qualquer tipo de pecado. Observamos também que a graça de Deus nos chama a comunhão com todo e qualquer tipo de pecador. Nessa comunhão, nossa referência é a santidade do próprio Jesus, aquele, sem acepção, chama à sua mesa todo tipo de gente.
Que Deus nos ajude a sinalizar sua maravilhosa graça neste mundo!
Luiz Felipe Xavier.

domingo, 18 de setembro de 2016

Pior cego é o que acha que vê

Pior cego é o que acha que vê

Marco 8:22-26

18 de setembro de 2016.

Luiz Felipe Xavier

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domingo, 28 de agosto de 2016

Religiosidade morta ou espiritualidade viva

Religiosidade morta ou espiritualidade viva

Marcos 7:1-23.

28 de agosto de 2016

Luiz Felipe Xavier

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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Encontro de Líderes Jovens do Movimento de Lausanne

Depois de um primeiro semestre muito difícil, chegara a hora de embarcar para a Indonésia. Sentindo-me árido espiritualmente, ansiava pelos dias que viriam. Queria ouvir a voz do Pai com o coração, ser reconvertido à simplicidade profunda do Evangelho e ser reencorajado pela comunhão e caminhada com os irmãos de diferentes partes do mundo.
Na companhia do Jonathan Freitas e do Davi Lin, cheguei à Indonésia. Era minha primeira vez na Ásia e num país de maioria muçulmana. Jacarta me pareceu uma cidade muito interessante, uma cidade que mistura tradição e inovação, uma cidade com boas opções culturais e com trânsito caótico. Em quatro dias, fiquei perplexo com a cultura muçulmana. Ali encontrei um povo alegre, cordial e pacífico, um povo que valoriza a família, apesar de, aparentemente, as mulheres ainda serem muito oprimidas. Este choque cultural me ofereceu boas perguntas.
Ali, em Jacarta, entre 03 e 10 de agosto, o Movimento de Lausanne reuniu mais de 1.000 líderes jovens, de mais de 140 países. Era o tão esperado Encontro de Líderes Jovens 2016! A celebração de abertura foi bela. Emocionei-me ao cantar “Bless the Lord, oh my soul | Oh my soul | Worship His holy name | Sing like never before | Oh my soul | I’ll worship Your holy name” com gente dos quatro cantos da terra.
Durante 8 dias muito intensos, refletimos sobre a grande história de Deus, história que une todos nós. Em forma de um mosaico, compartilho algumas lições que aprendi ali. O painel sobre o estado do mundo me ensinou a fazer três perguntas: “Onde a igreja está?”; “Para onde a igreja precisa ir?”; e “O que a igreja precisa fazer?”. Com Tracy Trinita aprendi a importância de contar histórias pessoais em conexão com a grande história de Deus. Richard Chin me ensinou que a criação de Deus é boa, mas não é perfeita, pois precisa ser cuidada e desenvolvida por nós. Ele me ensinou também que a grandeza de uma pessoa consiste em viver uma vida que aponte para Cristo. Com Mutua Mahiaini, aprendi que um líder deve ser reconhecido mais por sua voz que por seu nome. Lindsey Olesberb me ensinou que estamos diante do grande desafio de levar a próxima geração a se interessar e se engajar com as Escrituras. Com Vaughan Roberts, aprendi que um líder precisa lembrar que vem do pó, que Jesus deve ser o centro do seu ministério, que é necessário ser impiedoso com o pecado e que é preciso manter relacionamentos próximos. Aprendi também que, por vezes, precisaremos dizer “não” às maravilhosas oportunidades do ministério para passar mais tempo com a família e com os amigos. T. V. Thomas me ensinou que precisamos abandonar nossos preconceitos em relação os muçulmanos, que precisamos amá-los como Jesus os ama, e que precisamos recebê-los em nossas casas. Com Las Newman aprendi que um líder precisa cuidar de si mesmo, pois o estresse e a estafa têm como consequência a perda da paixão por Deus e pelas coisas do seu Reino. Andrea Roldan me ensinou que na longa caminhada de obediência a Deus, precisamos de “Paulos”, para nossa direção, de “Barnabés”, para nosso cuidado, e de “Timóteos”, para nossa sucessão. Com um pregador da Coreia do Norte, aprendi que um seguidor de Jesus não é aquele que têm uma vida religiosa ativa, porém, é aquele que tem Jesus como centro da sua vida. Ladan Nouri me ensinou que se Deus nos chamar para sofrer pelo seu nome, ele mesmo nos dará forças para isso. E, com Os Guinness, aprendi que, num mundo pluralista, precisamos do poder do Espírito, da história do pensamento e da análise da cultura.
Em meio a tudo isso, duas pessoas me impactaram profundamente. A primeira delas foi o Chris Wright. Como parte do que no encontro foi denominado “1 on 1”, tive a oportunidade de conversar com este irmão por 50 minutos. Esta conversa se deu em torno de três perguntas que lhe fiz: “Que conselhos você daria a um jovem pastor?”; “Que conselhos você daria a um jovem professor de Teologia?”; e “Que conselhos você daria a alguém que lidera sem ter o dom espiritual de liderança?”. Dentre os muitos conselhos que ouvi, destaco o principal: “Tenha a sua identidade profundamente arraigada em Cristo. Isso possibilitará o seu crescimento em liberdade e humildade”. O Chris Wright é uma das pessoas mais humildes com quem já conversei. Ao longo da minha peregrinação espiritual, quero considerar atentamente os preciosos conselhos que dele recebi. Louvo a Deus pela vida desse querido irmão! A segunda pessoa foi a Anne Zaki. Na minha opinião, ela fez a melhor exposição bíblica do encontro. Tendo como base a conhecida narrativa da Torre de Babel, ela propôs que, desde o Éden, o orgulho continua sendo um pecado muito sutil em nossos corações. Ele sempre se manifesta quando tentamos construir um mundo sem Deus. A Anne Zaki sugeriu que nosso mundo hoje é semelhante aquele da Torre de Babel. Logo, nesse nosso mundo, precisamos responder a uma pergunta fundamental: “Nós vamos trabalhar para que o nome de Deus seja espalhado pela terra ou para que o nosso próprio nome seja grande na terra?”. Tendo apresentado essa pergunta, ela nos desafiou a abandonar a auto idolatria. Isso porque a vontade de Deus é que deixemos de ser povo de Babel para nos tornar, de fato, povo da cruz. Três dias depois de ouvir esta mensagem, encontrei a Anne Zaki no elevador. Enquanto descíamos para o restaurante, disse-lhe: “Anne, muito obrigado por sua palavra sobre a Torre de Babel! Tenho uma filha que também se chama Anne. No final da sua exposição bíblica, pedi a Deus que fizesse da minha Anne uma bênção para o mundo assim como você é uma bênção para o mundo.”. Também louvo a Deus pela vida dessa querida irmã!
Por fim, sou muito grato a Deus pelo privilégio de ter conhecido e convivido com os mais de 60 irmãos da delegação brasileira. Embora infelizmente não tenha conseguido, tentei conversar com cada um deles. Algumas dessas conversas duraram longas horas, outras apenas alguns minutos. Em todas elas, aprendi. Aprendi especialmente que a amizade é o ponto de partida para todo e qualquer diálogo produtivo. Ao que me parece, a nossa contribuição à nossa geração deve ser precedida pela nossa amizade. Só assim, experimentando a unidade em meio à diversidade, seremos relevantes nos nossos dias. Também sou grato a Deus pelos dois momentos que tive com os irmãos da América Latina. Eles sempre nos ajudam a ver melhor a integralidade da missão.
Que Deus, por sua graça, nos dê discernimento e sabedoria, e nos ajude a seguir conectados a ele e uns aos outros!
Luiz Felipe Xavier.

domingo, 10 de julho de 2016

Esperança em meio ao sofrimento

Esperança em meio ao sofrimento

Marcos 5:21-43.

10 de julho de 2016

Luiz Felipe Xavier.

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domingo, 19 de junho de 2016

O crescimento do Reino em nós e entre nós

O crescimento do Reino em nós e entre nós

Marcos 4:26-34

19 de Junho e 2016

Luiz Felipe Xavier

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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Vivendo com significado e sentido

Eu gosto muito de ler biografias! O primeiro livro que li, de capa a capa, foi uma biografia: O apóstolo dos pés sangrentos, de Boanerges Ribeiro. Esse livro conta a extraordinária história do indiano Sundar Singh. Recomendo! Na Bíblia Sagrada encontramos surpreendentes “biografias”. Algumas delas são dadas; outras precisam ser construídas. Um exemplo de “biografia” que precisa ser construída é a de João Marcos. Observando as referências à vida de João Marcos no Novo Testamento, podemos afirmar que Deus deseja que a nossa vida seja vivida com significado e sentido. Para tal, precisamos considerar quatro segredos.
O primeiro segredo é desfrutar de um ambiente de piedade. “Percebendo isso, ele se dirigiu à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se havia reunido e estava orando.” (At. 12:12). Os irmãos estão orando por Pedro, que havia sido preso por Herodes e agora está livre. De acordo com o texto, João Marcos é filho de Maria. Eles moram em Jerusalém, numa grande casa. Nessa casa, parte da igreja de Jerusalém se reúne regularmente. Ali, os irmãos oram juntos e ouvem as histórias sobre Jesus. É da memória dessas histórias que, anos mais tarde, nascerá o Evangelho de Marcos. João Marcos desfruta de um ambiente de piedade. Num ambiente de piedade, a consciência da constante presença de Deus é cultivada, as disciplinas espirituais são praticadas e a igreja de Jesus é acolhida.
O segundo segredo de uma vida com significado e sentido é aderir às ações de Deus no mundo. “Tendo terminado sua missão, Barnabé e Saulo voltaram de Jerusalém, levando consigo João, também chamado Marcos.” (At. 12:25). O tempo passa e a missão à qual este verso se refere é aquela descrita em Atos 11:29-30: “Os discípulos [de Antioquia], cada um segundo as suas possibilidades, decidiram providenciar ajuda para os irmãos da Judéia. E o fizeram, enviando suas ofertas aos presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo.”. Terminada esta missão, Barnabé e Saulo retornam à Antioquia e levam consigo João Marcos. “Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra que os tenho chamado.”. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram. Enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. Chegando em Salamina, proclamaram a palavra de Deus nas sinagogas judaicas. João [Marcos] estava com eles como auxiliar.” (At. 13:2-5). Assim começa a primeira viagem dos missionários da igreja de Antioquia. Barnabé e Saulo são enviados em missão e levam João Marcos como auxiliar. João Marcos adere às ações de Deus no mundo. Aderimos às ações de Deus no mundo quando discernimos o que ele está fazendo, quando discernimos o que ele nos chama a fazer e quando obedecemos ao seu chamado específico para as nossas vidas.
O terceiro segredo de uma vida com significado e sentido é receber adequadamente as segundas chances. “De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João [Marcos] os deixou ali e voltou para Jerusalém.” (At. 13:13). Aqui, João Marcos, aparentemente, “pisa na bola”. Ele deixa os irmãos e retorna à Jerusalém. Mais adiante, veremos que, para Paulo, essa decisão representa um abandono. Esse abandono é um problema, porque quanto menor o grupo, maior a vulnerabilidade durante a viagem. Tendo concluída a primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé vão ao concílio em Jerusalém e retornam à Antioquia. “Algum tempo depois, Paulo disse a Barnabé: “Voltemos para visitar os irmãos em todas as cidades onde pregamos a palavra do Senhor, para ver como estão indo”. Barnabé queria levar João, também chamado Marcos. Mas Paulo não achava prudente levá-lo, pois ele, abandonando-os na Panfília, não permanecera com eles no trabalho. Tiveram um desentendimento tão sério que se separaram. Barnabé, levando consigo Marcos, navegou para Chipre, mas Paulo escolheu Silas e partiu, encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.” (At. 15:36-40). Por causa de João Marcos, Paulo e Barnabé se desentendem. Este desentendimento é tão sério que culminou numa separação. Barnabé perdoa João Marcos e decide caminhar com ele. João Marcos recebe uma segunda chance. Recebemos as segundas chances na vida porque somos fracos, porque equívocos pontuais não podem determinar toda a nossa história e porque precisamos aprender a dar as segundas chances a quem delas precisa.
O quarto segredo de uma vida com significado e sentido é ser relevante no Reino de Deus. “Aristarco, meu companheiro de prisão, envia saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e, se ele for visitá-los, recebam-no.” (Cl. 4:10). “Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia saudações, assim como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.” (Fm. 1:23-24). “Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério.” (2 Tm. 4:11). “Aquela que está em Babilônia, também eleita, envia saudações, e também Marcos, meu filho.” (1 Pd. 5:13). Estas quatro últimas referências à vida de João Marcos têm algo em comum: elas aparecem no final de três cartas de Paulo e da primeira carta de Pedro. Delas, decorrem algumas características de João Marcos. Ele é confiável, cooperador, útil e filho. Vale ressaltar que as três primeiras características são atribuídas por Paulo, aquele mesmo que se separou de Barnabé por causa da segunda chance dada por este a João Marcos. João Marcos é relevante no Reino de Deus. Aqui, uma pergunta final se faz necessária: Com quais características nós somos reconhecidos no Reino de Deus? Que Deus, por sua graça, nos leve à reflexão, e nos ajude a viver a vida com significado e sentido!
Luiz Felipe Xavier.

domingo, 8 de maio de 2016

Princípios para a maternidade-paternidade

Princípios para a maternidade-paternidade

Lucas 2:41-55

08 de maio de 2016

Luiz Felipe Xavier

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domingo, 17 de abril de 2016

Sinais da graça de Deus

Sinais da graça de Deus

Marcos 2:13-22

17 de abril de 2016

Luiz Felipe Xavier

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sábado, 16 de abril de 2016

Sobre o atual momento político do Brasil - Algumas considerações PESSOAIS

Vivemos em um país corrupto. Neste quesito, em nossa política não há santos. Não há nenhum sequer.

Lamentavelmente, antes de ser política, a nossa corrupção é cultural. Com raras exceções, ela faz parte do jeito de ser do nosso povo.

Devemos lutar contra todo e qualquer tipo de corrupção. Onde este mal estiver presente, ele precisa ser vencido, a começar em nós. Vençamos o mal com o bem.

Investigar a corrupção é necessário e urgente. Que seja feita a justiça, pela justiça, com justiça, para todos, indistintamente!

Vale lembrar que investigações seletivas, decisões parciais e vazamentos indevidos são expressões de injustiça.

Infelizmente, ao que me parece, a luta contra a corrupção transformou-se em luta contra o atual governo. Isso porque a motivação moral foi substituída pela motivação política.

Politicamente, há algum tempo, tenho me posicionado de maneira "pobre-centrada", pois são os mais pobres aqueles que mais carecem da ação do Estado em seu favor.

Logo, entre situação e oposição, os números mostram quem fez mais pelos mais pobres. Para mim, este é um dado considerável neste momento crítico.

Dentre muitas outras coisas, nos últimos anos, saímos do mapa da fome, reduzimos drasticamente a pobreza extrema – cerca de 45 milhões de pessoas deixaram a miséria – e ampliamos o acesso ao ensino superior. Destaco este último porque o vi bem de perto.

Obviamente, nem tudo foi perfeito até aqui. Algumas críticas a quem está no poder são pertinentes e necessárias. Por exemplo: as reformas estruturais que tanto necessitamos (a começar pela política) ainda não foram feitas. O pior é que havia condições para isso.

Sou a favor da democracia. Acredito tanto nela que gostaria de ver a presidenta eleita pelo povo governar o Brasil, exceto se ela tivesse, de fato, cometido algum crime de responsabilidade.

Faz parte da democracia aceitar o resultado das urnas. Parar o país por causa de uma derrota eleitoral é deplorável e inaceitável. Além disso, tal atitude gera instabilidade política e econômica, fazendo com que os mais pobres sofram os danos.

Penso que a grande mídia é uma potestade desprezível. Ela é de uma elite e mente por essa elite. Isto é fato.

Não dá para manter a saúde intelectual e ter a cabeça feita por Globo, Veja, Folha e companhia limitada. Assim, buscar formas alternativas de informação também é necessário e urgente. Para tal, a internet pode ser uma rica fonte, especialmente o Twitter.

Por mais que seja difícil, diferenças políticas não devem ser motivo de ofensas pessoais e de rupturas relacionais. Mesmo que discordemos uns dos outros devemos respeitar e amar uns aos outros.

Sim, sou mais à esquerda, por convicção pessoal. Não levanto todas as suas bandeiras, não fecho os olhos para os seus equívocos e não sou filiado a nenhum partido político.

Minha filiação primeira é ao Pai de Jesus. Esse Jesus que se fez gente e nos revelou com a gente deve ser neste mundo. Ele, o Filho, nos chama a buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, algo que só é possível no poder do Espírito.

A propósito, sou contra todo e qualquer tipo de idolatria. Sou contra a idolatria do Estado e contra a idolatria do Capital. Vejo muitas denúncias contra à primeira e quase nenhuma contra à última.

Por fim, como um cristão protestante, de tradição batista, afirmo a total separação entre a Igreja e o Estado, e a nossa plena liberdade de consciência, inclusive em relação à política.

Que o Deus Trino tenha misericórdia do nosso país e nos ajude a atravessar este tempo difícil!

Luiz Felipe Xavier.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Uma Igreja relevante para a sociedade

“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo suplicamos: Reconciliem-se com Deus. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:17-21NVI)
Uma Igreja relevante para a sociedade... Mas de qual Igreja estamos falando? Estamos falando da Igreja de Jesus Cristo. Esta Igreja é formada por aqueles que ouviram e creram no Evangelho do Reino de Deus. Basicamente, este Evangelho diz que o Pai tem um plano de reconciliação. Tal reconciliação é necessária porque houve rupturas. No início da história, o ser humano rompe com Deus, rompe consigo mesmo, rompe com o próximo e rompe com a criação. Esta é a extensão do que chamamos “queda”.
O Evangelho diz também que o Filho realiza este plano de reconciliação na história. Ele deixa a sua glória eterna e se esvazia; ele se faz homem e vive entre nós como um servo humilde; ele anuncia a proximidade ou acessibilidade do Reino de Deus e sinaliza concretamente este Reino; ele é movido por amor compassivo e anda por toda parte fazendo o bem a todos; ele morre injustamente numa cruz e ressuscita três dias depois; ele vive e voltará para tornar plena a reconciliação que já começou. Jesus é, portanto, o centro da reconciliação.
O Evangelho diz ainda que o Espírito Santo atualiza e dinamiza este plano hoje. Ele age na história, reconciliando pessoas com Deus, consigo mesmas, com o próximo e com a criação. Uma vez reconciliadas, essas pessoas tornam-se parte da Igreja, vitrine da reconciliação. Mais do que a ser vitrine, a Igreja é chamada a ser agência da reconciliação em realidades ainda marcadas pelas rupturas humanas. Logo, enquanto todas as coisas não estiverem reconciliadas com o Pai, em Cristo, a Igreja, no poder do Espírito Santo, está em missão na sociedade. Esta missão foi, é e sempre será a reconciliação. Vale sublinhar que, uma vez que as rupturas são integrais, a missão de reconciliação da igreja na sociedade também é integral.
Mas de qual sociedade estamos falando? Da nossa. Vivemos numa sociedade  desigual. Existem muitos pobres e poucos ricos. Só para termos uma idéia, no fim de 2016, estima-se que 1% da população mundial terá mais riqueza que os 99% restantes. Vivemos numa sociedade violenta. Existe muita guerra e pouca paz. A América Latina tem 9% da população mundial e é responsável por 33% dos assassinatos do mundo. No Brasil, esses assassinatos são, principalmente, de jovens pobres e negros. Vivemos numa sociedade paradoxal. Existe muito mais formação profissional do que existia num passado recente e ainda existe pouca qualificação profissional como demandará um futuro próximo. Em nosso país, embora a taxa de desemprego ainda esteja baixa, 8,2%, os jovens são aqueles que têm mais dificuldades de se inserir no mercado de trabalho. Vivemos numa sociedade consumista. Existe muita busca pelo ter e pouca busca pelo ser. Neste contexto, infelizmente, o desejo sobrepõe-se à necessidade. Vivemos numa sociedade globalizada. Existe muita informação e pouca crítica. Se antes o problema era o acesso à informação, hoje o problema é a seleção da informação.
Também vivemos numa sociedade conectada. Existe muita virtualidade e pouca realidade. Estamos vivendo a era das chamadas redes sociais, com todos os seus malefícios e benefícios. Vivemos numa sociedade polarizada. Existe muito ódio e pouco amor. Os extremos da direita e da esquerda estão cada vez mais acentuados e a tensão nos relacionamentos cresce. Vivemos numa sociedade perdida. Existe muita ação e pouca direção. Palavras como “significado”, “sentido” e “liderança” estão entrando em extinção. Vivemos numa sociedade pluralista. Existe muitos relativos e poucos absolutos. Tal realidade se configura tanto como um desafio quanto como uma oportunidade. Vivemos numa sociedade sincrética. Existe muita religiosidade e pouca espiritualidade. Neste contexto, somos chamados ao relacionamento com o Pai, baseado nos méritos do Filho, através do Espírito Santo.
Por fim, como a Igreja de Jesus Cristo pode ser relevante para a sociedade atual? Quero trazer duas propostas. A primeira é a prática da chamada “Hermenêutica Contextual”. Precisamos ouvir as perguntas que estão sendo feitas na sociedade que nos cerca. De posse dessas perguntas, precisamos nos dirigir à Escritura e procurar nela as respostas. Tendo encontrado as respostas, precisamos retornar à nossa sociedade e proclamá-las, com palavras e ações. Como a sociedade é dinâmica, este movimento circular torna-se constante.
A segunda proposta é o exercício da vocação pessoal. A nossa vocação diz respeito à maneira como servimos a Deus, servindo à sociedade. Uma das formas de expressarmos este serviço é através do nosso trabalho. O nosso trabalho, por sua vez, deve ser uma ação a partir de dois olhares: um olhar para dentro, para as nossas habilidades; e um olhar para fora, para as necessidades que nos cercam. É somente desta maneira que a nossa vocação, expressa pelo nosso trabalho, redundará em realização pessoal e relevância social.
Que Deus, por sua graça, nos ajude a ser uma Igreja relevante para a sociedade! Que, para tal, possamos praticar a “Hermenêutica Contextual” e exercitar a nossa vocação pessoal!
Luiz Felipe Xavier.

domingo, 20 de março de 2016

Agenda de Jesus e nossa agenda

Agenda de Jesus e nossa agenda

Marcos 1:21-39

20 de março de 2016

Luiz Felipe Xavier

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domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vivendo com significado e sentido

Vivendo com significado e sentido

Introdução ao livro de Marcos

14 de fevereiro de 2016

Luiz Felipe Xavier

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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Considerando as palavras de Deus

Deuteronômio 32 apresenta-nos um cântico de Moisés em forma de rib. Rib é um termo hebraico cujo significado é “litígio” ou “ação judicial”. Segundo J. A. Thompson, um rib é dividido em cinco partes: introdução – apelo ao acusado para dar ouvidos ao que está sendo anunciado (v. 1-4); interrogatório – perguntas do queixoso (ou do seu representante) nas quais está implícita a acusação (v. 5-6); retrospecto – declaração dos benefícios passados concedidos ao vassalo rebelde por seu senhor e da ingratidão daquele para com este (v. 7-14); acusação – referência à futilidade de outras alianças em face da rebelião (v. 15-18); sentença – declaração de culpa e aviso do juízo ou advertência ao arrependimento (v. 19-25). Aqui deparamo-nos com um problema: a estrutura do rib não cobre todo o capítulo. Os versos 26 a 43 ficam de fora. Logo, a solução do autor é a ampliação do rib, pela introdução do tema da esperança: a certeza do livramento de Israel (v. 26-38); a palavra do próprio Deus prometendo livramento (v. 39-42); o apelo a Israel para adorar a Deus (v. 32:43). Assim, o problema está resolvido.
A primeira parte do cântico de Moisés desafia-nos a considerar a Palavra de Deus. O verso 1 diz: “Escutem ó céus, e eu falarei; ouça ó terra, as palavras da minha boca.”. Antes de entrar na terra prometida, o povo de Israel deve ouvir a voz de Deus, as palavras da sua boca. A palavra traduzida por “ouça” é shama. Shama é “ouvir”, “escutar”, “obedecer”. Essa palavra é tão importante que se encontra em Deuteronômio 6:4, verso mais conhecido e citado pelo povo de Israel: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.”. Para demonstrar a importância de ouvir este ensino, Moisés lança mão de uma metáfora: a da chuva. No verso 2, ele afirma: “Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a relva e como gotas de água sobre a erva.”. Quatro palavras diferentes são utilizadas para descrever a ação da voz de Deus. Em sendo escutada, ouvida, essa voz produz vida. Assim sendo, todos nós somos desafiados a considerar as palavras de Deus.
Consideremos a Palavra objetiva de Deus, sua voz na Bíblia. A Bíblia é a principal fonte da espiritualidade. A espiritualidade considera a pessoa de Deus e sua relação com a criação, a partir da revelação. Deus é Deus. Nós somos homens. Deus é Criador, Transcendente e Eterno. Nós somos criaturas, imanentes e históricos (espaço-temporais). Se Deus é o que é e nós somos o que somos, o relacionamento com Deus só é possível porque ele se revelou a nós. Deus se revelou na criação, na história e, principalmente, em Jesus. Jesus é o clímax da revelação de Deus. Tudo que Deus queria dizer de si mesmo, ele disse em Jesus. Ou seja, Jesus é a Palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós. O que conhecemos sobre Jesus está na Bíblia, o registro escrito da revelação.
A Bíblia é inspirada. Inspiração é uma capacitação sobrenatural do Espírito Santo sobre pessoas divinamente escolhidas, de modo que seus registros da revelação tornam-se fidedignos e autoritativos. É a inspiração que garante a fidedignidade e a autoridade da Bíblia. A Bíblia é a principal fonte da espiritualidade e Jesus é a chave hermenêutica da Bíblia. Isto é, sem a Bíblia e sem Jesus não há espiritualidade. Para discernir a revelação de Deus na Bíblia, precisamos ser iluminados pelo Espírito Santo. Iluminação é uma capacitação sobrenatural do Espírito Santo sobre pessoas divinamente escolhidas, garantindo-lhes o discernimento da revelação registrada. É a iluminação que possibilita o discernimento da revelação de Deus. O Espírito Santo que inspirou o registro da revelação é o mesmo que ilumina o discernimento desse registro. Discernir a revelação é conhecer a Jesus. Conhecer a Jesus é reconhecer o amor de Deus. Reconhecer o amor de Deus implica em amar a Deus e amar ao próximo. O amor a Deus é expresso em obediência. O amor ao próximo é expresso em serviço.
Consideremos também a palavra subjetiva de Deus, sua voz no nosso coração. É importante destacar que a palavra subjetiva sempre deve estar sujeita à Palavra objetiva. Dallas Willard, recorrendo aos grandes mestres da espiritualidade cristã, ensina-nos algo muito importante: para que tenhamos certeza quanto à voz de Deus no nosso coração são necessárias as Escrituras e as circunstâncias. Ou seja, tudo que intuirmos como impressões espirituais precisa ser aferido pelas Escrituras. Isso porque Deus fará com que as Escrituras corroborem com a direção que ele está nos dando. Essas impressões espirituais também precisam ser avaliadas levando em consideração as circunstâncias que nos cercam. Isso porque Deus fará com que as circunstâncias confluam com a direção que ele está nos dando. Por fim, um detalhe precisa ser observado: só ouvimos a voz de Deus quando nos aquietamos e nos silenciamos. Talvez seja por isso que Eugene Peterson declare: “O silêncio é essencial à oração”. Orar é conversar com Deus. Nesta conversa, precisamos falar menos e ouvir mais.
Que a Palavra de Deus seja como uma chuva na terra muitas vezes seca do nosso coração! Que ela produza vida abundante em cada um de nós!

Luiz Felipe Xavier