quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O EVANGELHO É TRINITÁRIO

 

A carta aos Gálatas é, possivelmente, a primeira das treze cartas de Paulo. Ele a escreve em 49 d.C., de Antioquia da Síria, às igrejas da região sul da Galácia. Pouco tempo depois de retornar da sua primeira viagem missionária, o apóstolo recebe a notícia de que as igrejas que plantara haviam sido invadidas por falsos mestres judaizantes. Estes fazem ataques a Paulo e ao Evangelho. Dizem que Paulo não é apóstolo e que o Evangelho que ele anuncia é falso. Afirmam que antes de se tornarem cristãos, os gálatas precisam se tornar prosélitos, pagãos convertidos radicalmente à fé judaica. Ou seja, ensinam que à fé em Jesus é necessário acrescentar as obras da Lei. Ao receber essa notícia, Paulo escreve a carta aos Gálatas para defender o seu apostolado e para defender o Evangelho que anunciara. O Evangelho é o anúncio de que Jesus Cristo, o Messias morto e ressuscitado, é Senhor de todo o mundo. Em Gálatas 1, nós encontramos três características desse Evangelho.

 

O Evangelho é centrado na obra do Filho

 

Como de costume, Paulo começa sua carta com uma apresentação e uma saudação. Já na apresentação, ele defende o seu apostolado: “Paulo, apóstolo enviado, não da parte de homens nem por meio de pessoa alguma, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos” (v. 1). Um “apóstolo” é um “envidado” e Paulo o fora por Jesus Cristo e por Deus Pai. Logo, ele é apóstolo e tem autoridade apostólica.Se na apresentação Paulo defendera seu apostolado, na saudação ele defende o seu Evangelho: “A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo por nossos pecados a fim de nos resgatar desta presente era perversa, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.” (v. 3-5). O Evangelho de Paulo é centrado na obra de Cristo, o Filho. Jesus entregou a si mesmo por nossos pecados. Na cruz, a vida santa de Cristo é sacrificada por nós, pecadores. Jesus entregou a si mesmo para nos resgatar desta presente era perversa. Na cruz, Cristo nos liberta do poder do Diabo e da presente era má. E Jesus entregou a si mesmo segundo a vontade do Pai. Na cruz, a vontade de Cristo está em perfeita harmonia com a do Pai. Assim, o Evangelho é o anúncio de que Jesus Cristo, o Messias, morreu, ressuscitou e, agora, é Senhor de todo o mundo.

 

O Evangelho é baseado na graça do Pai

 

O texto segue e Paulo expressa a sua surpresa: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho.” (v. 6). O apóstolo está surpreso com uma transferência de fidelidade dos gálatas. Eles deixaram de confiar no Evangelho e passaram a confiar em outro evangelho. Eles deixaram de confiar no Evangelho da obra de Cristo, completa e suficiente, e passaram a confiar em um evangelho das obras humanas, incompletas e insuficientes. O Evangelho é sobre a obra de Cristo somente, sua vida, morte e ressurreição. O outro evangelho é sobre a obra de Cristo e mais alguma coisa, no caso, as obras da Lei (p. ex.: circuncisão, sábado, festas, dietas, purificações, etc.). Este outro evangelho não é Evangelho, pois depende dos méritos humanos e não exclusivamente da graça divina, da graça do Pai. O problema é que, de acordo com o apóstolo, afastar-se do Evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça.

 

O Evangelho é dinamizado pelo poder Espírito Santo

 

Nos últimos versos do capítulo, versos autobiográficos, Paulo fala sobre o poder desse Evangelho. A sua referência é o encontro de Jesus com ele, no caminho de Damasco (cf. At. 9:1-31). Os estudiosos do apóstolo denominam esse encontro de “experiência revelatória”. Essa experiência está no centro da vida de Paulo, marcando claramente um antes e um depois de Cristo. Antes, Paulo é um judeu praticante. Como tal, ele persegue e deseja destruir a igreja de Jesus. Na “experiência revelatória”, o apóstolo é alvo da ação de Deus. Apesar de Paulo fazer o que faz, por graça, Deus Pai revela o seu Filho a ele – notem que a iniciativa é divina. Depois, o apóstolo aprofunda a sua compreensão do Evangelho e dá testemunho dele, com palavras e com ações. Ele vai à Arábia, Jerusalém, Síria e Cilícia.

Embora o Espírito Santo não seja mencionado diretamente neste texto, em Gálatas 3:2-3, Paulo diz algo muito interessante: “Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da Lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram [o Evangelho]? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”. Para ele, a vida cristã começa pelo poder do Espírito Santo e é aperfeiçoada pelo mesmo poder. É assim com o apóstolo, com os gálatas e com todos que crêem no Evangelho. Assim sendo, toda transformação espiritual é fruto do poder do Espírito Santo.

 

Que Deus nos transforme pelo poder desse Evangelho trinitário!

 

Luiz Felipe Xavier