segunda-feira, 21 de junho de 2021

O SEGREDO DA VITÓRIA ESPIRITUAL


Um dos grandes temas da carta de Paulo aos gálatas, de modo geral, e do capítulo 5 dessa carta, de modo especial, é a liberdade. Na perspectiva do apóstolo, a liberdade cristã é muito diferente do legalismo judaico e da libertinagem pagã. Livre não é quem faz o que quer, mas quem faz a vontade de Deus. Os gálatas e todos os demais cristãos são livres para amar, especialmente a Deus e ao próximo. Logo, o amor é o que caracteriza a vida dos filhos de Deus.

Tendo tratado da liberdade para amar (v. 1-15), o apóstolo apresenta o conflito existente em todos os filhos de Deus, em todos aqueles que ouviram e creram no Evangelho (v. 16-26). Esse conflito é entre a carne e o espírito. Aqui, “carne” é a natureza humana caída, que anseia pelo pecado. A carne é o que nós somos por nascimento natural. Ela opera na lógica da rebelião contra Deus. E o resultado dessa rebelião são as “obras da carne”. No verso 17, “espírito” (com “e” minúsculo) é a natureza humana redimida, que anseia por Deus. O espírito é o que nós nos tornamos por novo nascimento. Ele opera na lógica da submissão a Deus. E o resultado dessa submissão é o “fruto do espírito”. Nos demais versos, “Espírito” (com E maiúsculo) é o Espírito Santo. Somos regenerados quando o Espírito Santo vivifica o nosso espírito. Além disso, é o Espírito Santo que faz o nosso espírito frutificar. Por isso, a nossa santificação é um processo de submissão ao Espírito Santo. Esse processo produz dois efeitos: a mortificação da carne e a frutificação do espírito.

 

Mortificação da carne

 

Sobre a carne, a natureza humana caída, Paulo diz: a carne anseia pelo pecado. “Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.”. Os desejos da carne são os desejos pecaminosos. De acordo com o apóstolo, a carne é condenada pela Lei. “(...) se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da Lei.”. Quem está debaixo da Lei recebe a justa condenação pelo seu descumprimento. E a carne é caracterizada pela presunção. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo EspíritoNão sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros.”. Quem procura ser justo diante de Deus pelo cumprimento da Lei – o legalista – torna-se presunçoso. Esta presunção se expressa de dois modos: primeiro, pela provocação dos outros, quando se considera superior; segundo, pela inveja dos outros, quando se considera inferior. O problema é que Paulo afirma que os desejos invisíveis da carne se transformam em obras visíveis da carne.

Na Bíblia “A Mensagem”, Eugene Peterson traduz essas obras da seguinte forma: “Todos conhecem o tipo de vida de uma pessoa que quer fazer o que bem entende: sexo barato e frequente, mas sem nenhum amor; vida emocional e mental detonada; busca frenética por felicidade, sem satisfação; deuses que não passam de peças decorativas; religião de espetáculo; solidão paranoica; competição selvagem; consumismo insaciável; temperamento descontrolado; incapacidade de amar e de ser amado; lares e vidas divididos; coração egoísta e insatisfação constante; costume de desprezar o próximo, vendo todos como rivais; vícios incontroláveis; tristes paródias de vida em comunidade. E, se eu fosse continuar, a lista seria enorme.”.

Tendo apresentado as obras da carne, o apóstolo faz uma séria advertência: “Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus.”. Quem leu atentamente a lista das obras da carne e lê esta advertência, conclui: não herdarei o Reino de Deus. Isso porque é impossível não praticar esses pecados. Porém, um detalhe precisa ser ressaltado: o verbo traduzido por “praticam” refere-se à prática habitual, não aos lapsos ocasionais. Ufa! Ou seja, não herdará o Reino de Deus quem, consciente e deliberadamente, pratica as obras da carne como um hábito. Além disso, o Paulo declara: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos.”. Isto é, quem pertence a Cristo Jesus é habitado pelo Espírito Santo, e quem se submete ao Espírito Santo recebe poder para crucificar a sua carne, seu anseio pelo pecado. Assim, o que se espera dos filhos de Deus é o discernimento da carne, a determinação de crucificá-la e a dependência do poder do Espírito Santo para tal. Aquele que discerne a sua própria carne é humilde em relação a si mesmo, e cheio de misericórdia e graça em relação a todas as demais pessoas.

 

Frutificação do espírito

 

Em oposição à carne, a natureza humana caída, está o espírito, a natureza humana redimida. Paulo declara: “Pois a carne deseja o que é contrário ao espírito; o espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam.” (notem: “espírito”, não “Espírito”). Como o espírito, a natureza humana redimida, pode vencer a carne, a natureza humana caída? O espírito deve se submeter ao Espírito Santo. Uma vez que os gálatas receberam vida do Espírito Santo, eles devem se submeter a ele.

Paulo apresenta três ações para explicitar esta submissão. A primeira é vivam pelo Espírito. Considerem o Espírito Santo na forma como vocês vivem a vida. Isso significa que há uma maneira certa de viver neste mundo criado por Deus. A segunda ação é sejam guiados pelo Espírito – dimensão passiva. Dêem razão ao Espírito Santo e façam o que ele diz. O Espírito Santo é uma pessoa que fala, e que deseja ser ouvida e obedecida. E a terceira ação é andem pelo Espírito – dimensão ativa. Literalmente, caminhem em linha reta, seguindo o Espírito Santo. Essa caminhada requer disciplina e possibilita um novo pensar e um novo desejar.O resultado desta submissão ao Espírito Santo é o fruto do Espírito.

Na mesma Bíblia “A Mensagem”, Peterson traduz esse fruto do Espírito da seguinte forma: “Mas vamos falar da vida com Deus. O que acontece quando vivemos no caminho de Deus? Deus faz surgir dons em nós, como frutas que nascem num pomar: afeição pelos outros, uma vida cheia de exuberância, serenidade, disposição de comemorar a vida, um senso de compaixão no íntimo e a convicção de que há algo de sagrado em toda a criação e nas pessoas. Nós nos entregamos de coração a compromissos que importam, sem precisar forçar a barra, e nos tornamos capazes de organizar e direcionar sabiamente nossas habilidades.”. Assim sendo, nos filhos de Deus, o conflito interior é uma realidade inevitável e a vitória espiritual é uma possibilidade real. Ao que parece, o segredo dessa vitória é a submissão ao Espírito Santo, pois ele nos dá poder tanto para crucificar a carne quanto para frutificar no espírito. Estes dois efeitos são os dois lados da mesma moeda.

Portanto, submetamo-nos ao Espírito Santo para que ele faça o nosso espírito frutificar. Nisto está a nossa verdadeira liberdade!

Luiz Felipe Xavier.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

SOMOS FILHOS AMADOS DE DEUS

Em uma certa altura da sua carta aos gálatas, o apóstolo Paulo destaca dois personagens da história de Israel: Abraão e Moisés. Deus chama Abraão e promete abençoar todas as famílias da terra pelo seu descendente. Esse descendente é Cristo, por meio de quem o Pai está formando uma só família. Depois, Deus dá a Lei a Moisés e o cumprimento da promessa se torna necessário e urgente. Essa Lei condena a todos para que Cristo possa justificar os que crêem no Evangelho. Logo, o que o apóstolo está ensinando é o seguinte: todos aqueles que foram condenados pela Lei de Moisés e justificados pela fé em Cristo são herdeiros da promessa que Deus fez a Abraão e fazem parte da família que o Pai está formando. Eles deixaram de ser escravos e se tornaram filhos. Gálatas 3:26 a 4:7 apresenta três preciosas verdades sobre a nossa filiação.

 

Somos filhos de Deus Pai

 

O Pai sempre desejou formar uma família de muitos filhos e filhas. Assim, Paulo começa dizendo: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (3:26). Ou seja, os gálatas se tornaram filhos de Deus quando ouviram e creram no Evangelho. Eles nasceram de novo e colocaram a sua confiança na pessoa e na obra de Cristo. O sinal visível deste novo nascimento invisível é o batismo. De acordo com o apóstolo, quem crê no Evangelho e é batizado passa a pertencer à família de Deus. Nessa família, cujas relações são igualitárias, há unidade em meio à diversidade. Nela, Paulo afirma: “Não há judeu nem grego” – não há mais barreiras raciais e culturais – “escravo nem livre” – não há mais barreiras sociais e econômicas – “homem nem mulher” – não há mais barreiras de sexo ou de gênero – “pois todos são um em Cristo Jesus.” (3:28). E todos, indistintamente, são descendentes de Abraão e herdeiros da promessa de uma só família, livre e abençoada por Deus.

O apóstolo nos ensina que são filhos e filhas de Deus aqueles e aquelas que colocam a sua confiança na pessoa e na obra de Cristo. Essas pessoas dão testemunho público da sua fé por meio do batismo. Elas passam a fazer parte da família de Deus. A beleza dessa família se expressa pela unidade em meio à diversidade, nunca pela uniformidade. Como na família de Deus as relações são igualitárias, os filhos e as filhas de Deus são os primeiros a se levantar contra as relações marcadas por superioridade e inferioridade, por dominação e subjugação. São os primeiros a se levantar contra o racismo, a opressão, o machismo, etc.. São os primeiros a se levantar contra estes e outros pecados estruturais.

 

Somos redimidos por Deus Filho

 

O texto segue e Paulo estabelece uma relação entre um herdeiro, menor de idade, e um escravo. O herdeiro, menor de idade, está sujeito a guardiães e administradores. O escravo está sujeito ao senhor. Assim sendo, ambos são, de certa forma, escravos. O apóstolo continua a sua argumentação dizendo que os gálatas eram como esse herdeiro, menor de idade, sujeitos aos princípios elementares do mundo. Mas o que são os princípios elementares do mundo? Os melhores comentaristas acham que é a Lei, instrumentalizada pelo Diabo, para tiranizar. Sobre isso, John Stott afirma: “Deus pretendia que a lei revelasse o pecado e levasse os homens a Cristo; Satanás usou-a para revelar o pecado e levar os homens aos desespero.”. Timothy Keller acrescenta algo muito interessante: “Em certo sentido, todos nos encontramos ‘debaixo da lei’, mesmo que nunca tenhamos ouvido falar da Bíblia ou de Moisés. Por quê? Porque todos tentamos desesperadamente viver à altura de determinados padrões. Somos ansiosos e vivemos sobrecarregados pelas preocupações.”. “Mas”, diz Paulo, “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos.” (4:4). Os judeus, ouvindo essas palavras, lembrariam da Páscoa e do êxodo. Jesus, o Filho de Deus, é o redentor, aquele que realiza um novo êxodo. Sobre este verso, Stott comenta: “Se ele [Jesus] não fosse homem, não poderia ter remido os homens. Se não fosse justo, não poderia ter remido os injustos. E, se não fosse o Filho de Deus, não poderia ter remido as pessoas para Deus, tornando-as filhas de Deus.”. Pergunta: como alguém se torna filho ou filha de Deus? O Pai adota todos aqueles que o Filho redime. Jesus é o Filho gerado do Pai e todos aqueles que nele crêem tornam-se filhos adotados do Pai.

Por tudo isso, é muito importante que compreendamos o papel da Lei. Como diz o meu amigo Ariovaldo Ramos, “ela nos coloca de joelhos para que a graça nos coloque de pé”. É a lei que nos conduz a Cristo, o nosso redentor. Agora, sem a obrigação de cumprir a Lei ou de viver à altura de determinados padrões para sermos aceitos na família de Deus (escravidão), crescemos em obediência amorosa, consciente e responsável (liberdade).

 

Somos habitados por Deus Espírito Santo

 

Tendo afirmado que o Pai enviou o Filho, Paulo diz que ele enviou também o Espírito Santo: “E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: ‘Aba, Pai’.” (4:6). Os judeus, ouvindo também essas palavras, lembrariam da aliança no Sinai e do Pentecostes. O Espírito Santo, que habita o coração dos que crêem, é aquele que sela a nova aliança. É por meio dele que aqueles que crêem podem clamar “Aba, Pai”. “Aba” é o diminutivo aramaico de “Pai”, é “Papaizinho”. Foi assim que Jesus se referiu a Deus e nos ensinou a fazer o mesmo. Então, chamar Deus de “Papaizinho” implica tanto identidade, somos filhos, quanto intimidade, ele está sempre conosco. Por fim, o apóstolo conclui com as seguintes palavras: “Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro.” (4:7). Do início ao fim, a ênfase do texto é a mesma: a filiação. Em Cristo, aqueles que crêem deixam de ser escravos e tornam-se filhos. Mais do que isso, tornam-se herdeiros da promessa de uma só família, livre e abençoada por Deus.

Por fim, o Espírito Santo é a maior bênção que recebemos do Pai. Ele nos possibilita uma comunhão íntima com a Trindade. Todos nós que temos o Espírito Santo temos também a certeza de que somos filhos de Deus Pai e herdeiros com Deus Filho. Esta é uma experiência profundamente pessoal e com belíssimas implicações comunitárias. E é pelo poder do Espírito brota em nós o seu fruto. Isso desde que nos submetamos a ele, não criemos resistência à sua ação em nós. Portanto, somos filhos do Pai, redimidos pelo Filho e habitados pelo Espírito Santo. A minha oração é que Deus nos ajude a ser família, a viver de modo digno como seus filhos e filhas. Que assim seja!

 

Luiz Felipe Xavier.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O EVANGELHO É TRINITÁRIO

 

A carta aos Gálatas é, possivelmente, a primeira das treze cartas de Paulo. Ele a escreve em 49 d.C., de Antioquia da Síria, às igrejas da região sul da Galácia. Pouco tempo depois de retornar da sua primeira viagem missionária, o apóstolo recebe a notícia de que as igrejas que plantara haviam sido invadidas por falsos mestres judaizantes. Estes fazem ataques a Paulo e ao Evangelho. Dizem que Paulo não é apóstolo e que o Evangelho que ele anuncia é falso. Afirmam que antes de se tornarem cristãos, os gálatas precisam se tornar prosélitos, pagãos convertidos radicalmente à fé judaica. Ou seja, ensinam que à fé em Jesus é necessário acrescentar as obras da Lei. Ao receber essa notícia, Paulo escreve a carta aos Gálatas para defender o seu apostolado e para defender o Evangelho que anunciara. O Evangelho é o anúncio de que Jesus Cristo, o Messias morto e ressuscitado, é Senhor de todo o mundo. Em Gálatas 1, nós encontramos três características desse Evangelho.

 

O Evangelho é centrado na obra do Filho

 

Como de costume, Paulo começa sua carta com uma apresentação e uma saudação. Já na apresentação, ele defende o seu apostolado: “Paulo, apóstolo enviado, não da parte de homens nem por meio de pessoa alguma, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos” (v. 1). Um “apóstolo” é um “envidado” e Paulo o fora por Jesus Cristo e por Deus Pai. Logo, ele é apóstolo e tem autoridade apostólica.Se na apresentação Paulo defendera seu apostolado, na saudação ele defende o seu Evangelho: “A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo por nossos pecados a fim de nos resgatar desta presente era perversa, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.” (v. 3-5). O Evangelho de Paulo é centrado na obra de Cristo, o Filho. Jesus entregou a si mesmo por nossos pecados. Na cruz, a vida santa de Cristo é sacrificada por nós, pecadores. Jesus entregou a si mesmo para nos resgatar desta presente era perversa. Na cruz, Cristo nos liberta do poder do Diabo e da presente era má. E Jesus entregou a si mesmo segundo a vontade do Pai. Na cruz, a vontade de Cristo está em perfeita harmonia com a do Pai. Assim, o Evangelho é o anúncio de que Jesus Cristo, o Messias, morreu, ressuscitou e, agora, é Senhor de todo o mundo.

 

O Evangelho é baseado na graça do Pai

 

O texto segue e Paulo expressa a sua surpresa: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho.” (v. 6). O apóstolo está surpreso com uma transferência de fidelidade dos gálatas. Eles deixaram de confiar no Evangelho e passaram a confiar em outro evangelho. Eles deixaram de confiar no Evangelho da obra de Cristo, completa e suficiente, e passaram a confiar em um evangelho das obras humanas, incompletas e insuficientes. O Evangelho é sobre a obra de Cristo somente, sua vida, morte e ressurreição. O outro evangelho é sobre a obra de Cristo e mais alguma coisa, no caso, as obras da Lei (p. ex.: circuncisão, sábado, festas, dietas, purificações, etc.). Este outro evangelho não é Evangelho, pois depende dos méritos humanos e não exclusivamente da graça divina, da graça do Pai. O problema é que, de acordo com o apóstolo, afastar-se do Evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça.

 

O Evangelho é dinamizado pelo poder Espírito Santo

 

Nos últimos versos do capítulo, versos autobiográficos, Paulo fala sobre o poder desse Evangelho. A sua referência é o encontro de Jesus com ele, no caminho de Damasco (cf. At. 9:1-31). Os estudiosos do apóstolo denominam esse encontro de “experiência revelatória”. Essa experiência está no centro da vida de Paulo, marcando claramente um antes e um depois de Cristo. Antes, Paulo é um judeu praticante. Como tal, ele persegue e deseja destruir a igreja de Jesus. Na “experiência revelatória”, o apóstolo é alvo da ação de Deus. Apesar de Paulo fazer o que faz, por graça, Deus Pai revela o seu Filho a ele – notem que a iniciativa é divina. Depois, o apóstolo aprofunda a sua compreensão do Evangelho e dá testemunho dele, com palavras e com ações. Ele vai à Arábia, Jerusalém, Síria e Cilícia.

Embora o Espírito Santo não seja mencionado diretamente neste texto, em Gálatas 3:2-3, Paulo diz algo muito interessante: “Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da Lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram [o Evangelho]? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”. Para ele, a vida cristã começa pelo poder do Espírito Santo e é aperfeiçoada pelo mesmo poder. É assim com o apóstolo, com os gálatas e com todos que crêem no Evangelho. Assim sendo, toda transformação espiritual é fruto do poder do Espírito Santo.

 

Que Deus nos transforme pelo poder desse Evangelho trinitário!

 

Luiz Felipe Xavier

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

BOAS ATITUDES PARA DIAS MAUS

A carta-pregação aos Hebreus possui um conteúdo singular em todo o Novo Testamento. Nela, Jesus é apresentado como o nosso único e último Sumo Sacerdote, um mediador diferente, segundo a ordem de Melquisedeque. Ele é aquele que estabelece uma nova aliança, infinitamente superior à antiga. Sendo assim, aqueles que nele crêem passam a experimentar uma nova vida. Eles são desafiados a tomar boas atitudes, principalmente em dias maus. No fim do capítulo dez, nós encontramos três dessas boas atitudes. 

 

Aproximemo-nos de Deus

 

Levando em consideração quem Cristo é e o que ele fez, o autor chama os irmãos a se aproximar de Deus. Na tradição dos hebreus, a aproximação de Deus era restrita a pouquíssimas pessoas. Além disso, essa experiência poderia ser marcada pelo medo. Mas agora, o caminho à presença de Deus está aberto. Todos e todas que crêem em Jesus podem se aproximar de Deus, sem medo algum. O autor de Hebreus afirma: “temos plena confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus” (v. 19). “Assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé” (v. 22). “Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel.” (v. 23). Como Cristo providenciou a purificação dos pecados, é possível se aproximar de Deus com confiança, com convicção e com firmeza.

Nestes dias maus, aproximemo-nos de Deus! E aqui há um paradoxo: somos chamados a nos aproximar daquele que está sempre perto. Na presença de Deus, tudo em nós chega no seu devido lugar e tudo ao nosso redor fica do seu devido tamanho. Por isso, a sua presença é absolutamente necessária à vida abundante.

 

Encorajemo-nos uns aos outros

 

Tendo orientado a relação dos irmãos com Deus, o autor passa a orientar a relação deles entre si. “E consideremos uns aos outros” (v. 24). Isto é, e percebamos uns aos outros. Percebamos uns aos outros com um propósito muito objetivo: “para nos incentivarmos ao amor e às boas obras” (v. 24). Ou, em outras palavras, para nos incentivarmos ao amor que se traduz em boas obras, em suprir necessidades específicas.Obviamente, para que esta percepção e este incentivo aconteçam, a convivência é necessária. Por isso, o autor diz: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns” (v. 25). Aqui, ele é explícito em relação à necessidade e ao desafio da convivência. Em relação à necessidade, não há igreja de verdade sem a reunião dos irmãos e das irmãs. Já em relação ao desafio, apesar das dificuldades que são próprias a toda e qualquer convivência, não podemos desistir da reunião com os irmãos e com as irmãs. Logo, ao invés de se afastar da convivência, os irmãos e as irmãs devem se encontrar com o propósito que já foi mencionado: o encorajamento mútuo. Por isso, o autor afirma: “procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.” (v. 25).

Nestes dias maus, encorajemo-nos uns aos outros! Para encorajar, é preciso perceber; e para perceber, é preciso convier. Porém, como isso se dá em tempos pandêmicos, em tempos de distanciamento? Através de contatos pelos meios possíveis. Pelos telefonemas, e-mails, mensagens, vídeo-chamadas, etc.. Nas igrejas locais, em especial, pela participação nos pequenos grupos virtuais. Tendo percebido as necessidades específicas, como podemos encorajar nossos irmãos e irmãs? Ou, com qual boa obra podemos demonstrar-lhes o amor de Deus?

 

Perseveremos até o fim

 

Para perseverarem até o fim, os irmãos e as irmãs precisam tomar cuidado com um obstáculo perigoso: o pecado deliberado, o pecado pós-conhecimento da verdade. Isso porque esse pecado é uma evidência clara da inimizade com Deus. Dentre outras coisas, o pecado deliberado pode ter como causa uma noção equivocada da graça de Deus, uma noção que ficou conhecida como “graça barata” – Deus me acolheu como eu estava e não se importa que eu permaneça da mesma forma. Diante disso, uma importante lembrança se faz necessária: “Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados” (v. 32). Essa lembrança fala tanto da potência quanto da resistência do chamado “primeiro amor”. Nos dias maus, os irmãos e as irmãs foram fortalecidos por Deus e perseveraram. É por isso que, agora, eles se encontram diante de um duplo desafio. Primeiro: “não abram mão da confiança que vocês têm” (v. 35). Isso porque essa confiança será ricamente recompensada. Segundo: “Vocês precisam perseverar” (v. 36). Isso porque, depois de terem realizado a vontade de Deus (santificação), receberão o que ele prometeu. Por fim, o autor conclui declarando: “Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos.” (v. 39).

Nestes dias maus, perseveremos até o fim! Nós perseveramos na certeza da presença e do fortalecimento do nosso Deus. Assim, nós não podemos abrir mão da confiança que temos. Antes, nós precisamos perseverar. Está difícil? Está! Porém, nós não somos dos que retrocedem, somos dos que crêem. Sigamos!

 

Que Deus, por amor dele mesmo, nos ajude!

 

Luiz Felipe Xavier