segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

VIVENDO SOB O DOMÍNIO DA GRAÇA

A Parábola dos Trabalhadores da Vinha está presente apenas em Mateus e, neste Evangelho, é a única que se encontra na viagem de Jesus da Galiléia à Judéia. Ela é uma ilustração da inversão que se dá no Reino dos Céus ou Reino de Deus. Nesse Reino, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Isso porque, dentre outras coisas, o Reino dos céus ou Reino de Deus é o domínio da graça, da gratuidade. Para vivermos sob esse domínio, precisamos superar três tendências muito comuns em nós mesmos e no nosso entorno.

Tendência ao mérito

Jesus começa a Parábola dos Trabalhadores da Vinha comparando o Reino dos céus a um proprietário que sai para contratar trabalhadores para a sua vinha. Esses trabalhadores estão na praça, esperando por alguém que os contrate por um dia. O expediente diário é de doze horas, de seis da manhã a seis da tarde, de sol a sol. Por essas doze horas de trabalho recebe-se um denário, o salário de um dia. O proprietário contrata trabalhadores em cinco momentos. Às 06h, o combinado é pagar um denário pelo trabalho. Às 09h, o combinado é pagar o que for justo. Às 12 e às 15h, o combinado é o mesmo: pagar o que for justo. E, às 17h, não há combinado.  Os trabalhadores da primeira contratação esperam receber um denário. Os trabalhadores das demais contratações esperam receber as frações de um denário, proporcionais às horas dedicadas. Ou seja, todos esperam receber de acordo com os seus méritos.
A nossa tendência a viver sob o domínio dos méritos nos impede de viver sob o domínio da graça. Quase tudo no nosso entorno opera na lógica do mérito-retribuição (p. ex.: aprovações, contratações, promoções, etc.). E como vivemos sob o domínio do mérito, tendemos a transferir esse domínio à nossa relação com Deus. Porém, em assim fazendo, estamos impedidos de viver sob o domínio da graça. A boa notícia é que Deus não nos trata segundo os nossos méritos. Assim sendo, a relação dele conosco é baseada na graça, expressão do seu amor constante.

Tendência à comparação

Por volta das 18h, ao cair da tarde, o dono da vinha diz ao seu administrador que chame os trabalhadores e pague-lhes o salário. Até aqui, tudo bem. Daqui em diante, uma grande surpresa. A orientação do proprietário ao seu administrador quanto ao pagamento é a seguinte: comece com os últimos contratados e termine com os primeiros – essa é a surpresa. Ele deseja que os que foram contratados primeiro observem o pagamento dos que foram contratos por último. Imaginemos a cena... “Trabalhadores contratados às 17h: um denário.” Os contratados às 06h. fazem contas. “Trabalhadores contratados às 15h: um denário.” Os contratados às 06h olham uns para os outros. “Trabalhadores contratados às 12h: um denário.” Os contratados às 06h são tomados por incompreensão. “Trabalhadores contratados às 09h: um denário.” Os contratados às 06h, ficam apreensivos. “E trabalhadores contratados as 06h: um denário.” Diz o texto que estes “esperavam receber mais”. Se o combinado foi um denário, por que eles esperam receber mais? Porque eles se comparam com os outros. Eles se consideram merecedores de um salário superior ao dos outros.
A nossa tendência a viver sob o domínio da comparação nos impede de viver sob o domínio da graça. Quase tudo no nosso entorno opera também na lógica da comparação-superação. E como vivemos sob o domínio da comparação, tendemos a transferir esse domínio à nossa relação com o nosso próximo. Todavia, em assim fazendo, estamos impedidos de viver sob o domínio da graça. A boa notícia é que somos todos iguais diante de Deus. Consequentemente, a nossa relação com o nosso próximo é baseada na graça, expressa no alegrar-se com os que se alegram.

Tendência à ingratidão

Quando recebem o seu denário, os trabalhadores contratados às 06h começam a se queixar do proprietário da vinha. Ao invés de serem tomados por gratidão, são tomados por ingratidão. Essa ingratidão é traduzida em palavras: “Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, e o senhor os igualou a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia”. Estaria o proprietário da vinha sendo injusto com os trabalhadores que foram contratados às 06h? A resposta é: não. Isso porque, como diz o ditado, o que é combinado não é caro. Estaria, então, o proprietário da vinha sendo justo com os trabalhadores que foram contratados nas demais horas do dia? A resposta também é: não. Isso porque justo seria pagar as frações de horas trabalhadas. Se o proprietário não está sendo justo, o que ele está sendo? A resposta é: gracioso. A graça transcende a justiça. Isso fica evidente na sua resposta aos trabalhadores queixosos: “Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um denário? Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que dei a você. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?” A graça do proprietário é expressa em generosidade aos que foram contratados por último. Por isso, Jesus conclui a parábola com as seguintes palavras: “Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.
A nossa tendência a viver sob o domínio da ingratidão nos impede de viver sob o domínio da graça. Quase tudo no nosso entorno opera ainda na lógica da ingratidão-obrigação. E como vivemos sob o domínio da ingratidão, tendemos a transferir esse domínio à nossa relação com Deus e com o próximo. Contudo, em assim fazendo, estamos impedidos de viver sob o domínio da graça. A boa notícia é que somos todos alvos da bondade de Deus. Portanto, a nossa relação com ele e com o próximo é baseada na graça, expressa em obediência e serviço.

Que Deus nos ajude a viver sob o domínio da graça!

Luiz Felipe Xavier.