quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sinais da graça de Deus

Jesus é uma pessoa que, vez por outra, envolve-se em controvérsias. No início do Evangelho de Marcos, encontramos as chamadas “quatro controversas de Cafarnaum” (2:1-3:6). Na primeira, Jesus demonstra que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados. Na segunda, ele demonstra que esta autoridade estende-se ao publicano Levi (ou Mateus) e aos seus amigos. Na terceira, ele demonstra que sua presença é semelhante a uma festa de casamento, quando a alegria é tão grande que não faz sentido jejuar. Na quarta, ele demonstra que é Senhor de tudo, até mesmo do sábado. Logo, Jesus revela-nos um Deus cheio de graça. Mais especificamente em Marcos 2:13-17, essa graça expressa-se através de dois sinais.
O primeiro sinal da graça é a inclusão que chama ao seguimento. Jesus está em Cafarnaum, no lago da Galiléia, ensinando uma grande multidão. Cafarnaum é um povoado modesto, com cerca de 600 a 1.500 habitantes. Em sua maioria, esses habitantes são pescadores e camponeses. Nesse povoado de pescadores e camponeses, há dois tipos de cobradores de impostos: os funcionários da aduana, que cobram das caravanas, e os funcionários do cais, que cobram dos pescadores. Esses cobradores de impostos são conhecidos como “publicanos”. No processo de cobrança de impostos pelos publicanos, há extorsão e enriquecimento ilícito. Assim, os publicanos são funcionários do Império Romano e opressores do povo de Israel. Por isso, um judeu publicano é considerado como um traidor e um inimigo; é odiado e marginalizado.
Ali, em Cafarnaum, Jesus passa pela coletoria de um publicano chamado Levi e lhe diz: “Siga-me”. Imaginemos esta cena... Jesus passa com Simão, André, Tiago e João, pescadores oprimidos que odeiam Levi e, num gesto totalmente inclusivo, o chama ao seguimento. Fato é que, seguindo os passos de Jesus, Levi será totalmente transformado.
Neste singelo “siga-me” de Jesus observamos que a graça de Deus é totalmente inclusiva. Ela alcança todo e qualquer tipo de pessoa. Observamos também que a graça de Deus nos chama ao seguimento de Jesus. Nesse seguimento, todo e qualquer tipo de pessoa pode ser transformado. Isso porque a graça que nos acolhe como somos é incapaz de nos deixar da mesma forma. Ela é uma graça transformadora.
O segundo sinal da graça é o perdão que chama à comunhão. O texto segue e, numa refeição na casa de Levi, muitos publicanos e “pecadores” estão à mesa com Jesus e seus discípulos. Os publicanos nós já conhecemos. Quem são os “pecadores”? Eles são pessoas de má fama, pessoas que se recusam a seguir a lei mosaica, tal como interpretada pelos mestres da lei. Jesus assenta-se à mesa com esses publicanos e “pecadores”. Ser recebido em uma mesa com o propósito de comer com outra pessoa é uma cerimônia ricamente simbólica de amizade, intimidade e unidade. Jesus assenta-se à mesa com este tipo de gente como um amigo. Não é sem razão que ele é chamado de “comilão e beberrão, amigos de publicanos e pecadores” (Lc. 7:34). É muito interessante notar que Jesus é amigo destas pessoas antes mesmo de vê-las transformadas.
Vendo Jesus à mesa com publicanos e “pecadores”, os mestres da lei, que eram fariseus, perguntam aos discípulos dele: “Por que ele come com publicanos e pecadores?”. Os fariseus ou “os separados” concebem a pessoa de Deus como totalmente santo e totalmente separado dos pecadores. Eles esperam por uma grande festa messiânica, da qual participarão somente os separados dos pecados e dos pecadores no tempo presente. Para os fariseus, este banquete final simboliza a grande salvação de Israel. Assim sendo, ouvindo a pergunta desses mestres da lei, Jesus afirma que não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ele diz também que não vem chamar os justos, porém, os pecadores. Os que têm saúde são aqueles que se consideram justos ao passo que os doentes são aqueles que se consideram pecadores. Para esses doentes-pecadores, e só para eles, há perdão e comunhão. Então, Jesus está oferecendo o banquete da salvação aos marginalizados pelos religiosos do seu tempo.
Neste simbólico assentar-se à mesa de Jesus, observamos que a graça de Deus é totalmente perdoadora. Ela perdoa todo e qualquer tipo de pecado. Observamos também que a graça de Deus nos chama a comunhão com todo e qualquer tipo de pecador. Nessa comunhão, nossa referência é a santidade do próprio Jesus, aquele, sem acepção, chama à sua mesa todo tipo de gente.
Que Deus nos ajude a sinalizar sua maravilhosa graça neste mundo!
Luiz Felipe Xavier.