quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Jesus: o caminho para sair da crise de fé


Nos dois últimos meses, tenho refletido sobre a carta aos Hebreus. Essa carta foi escrita a judeus convertidos à fé cristã. Tais judeus cristãos creram no Evangelho, começaram a seguir a Jesus e entraram numa profunda crise de fé. No capítulo 5, entre os versos 11 e 14, o autor apresenta-nos essa triste situação: “Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender. Embora a esta altura já devessem ser mestres, precisem de alguém que ensinem a vocês novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal.”.
Assim como os judeus cristãos passaram por crise de fé, hoje, muitos de nós também passam por crise de fé. Logo, a pergunta é: o que precisamos fazer para sair dessa crise? A carta inteira é uma resposta a essa pergunta. Aqui, quero apresentar uma parte, a mais importante, diga-se de passagem, dessa resposta: Jesus.
No capítulo 4 de Hebreus, entre os versos 14 e 16, encontramos uma das mais belas descrições sobre Jesus. Diz-nos o texto: “Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.”.
Que verdade maravilhosa e encorajadora! A esperança para pessoas pecadoras, fracas e ambíguas como nós está em nosso Sumo Sacerdote, a saber, em Jesus, o Filho de Deus. Primeiro, esse Sumo Sacerdote é grande. Se o sumo sacerdote judaico era apenas um homem, ele é também o Filho de Deus. Ele é Deus que se fez homem para levar o homem de volta a Deus. Segundo, esse Sumo Sacerdote adentrou os céus. Se o sumo sacerdote judaico entrava apenas no santo dos santos, uma vez por ano, ele adentrou os céus, de uma vez por todas. Não há mais necessidade de sacrificar animais para ser perdoado por Deus, pois o único sacrifício suficiente já foi feito, de forma última e definitiva, na presença de Deus e dos homens. Terceiro, esse Sumo Sacerdote pode compadecer-se das nossas fraquezas. O texto afirma que ele passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Ele identificou-se conosco em nossas fraquezas e compadece-se de nós em nossas necessidades.
Sabem o que isso significa? Isso significa que nenhum de nós é uma surpresa para Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Quando ele derramou seu sangue sabia, exatamente, que tipo de pessoa estava comprando. Ele sabia que somos pecadores, sabia que somos fracos e sabia que somos ambíguos. E, apesar de nós mesmos, ele amou-nos e comprou-nos para si mesmo, a fim de transformar-nos à sua própria imagem.
Jesus é o caminho que faz-nos sair da crise de fé. Ele convida-nos a aproximarmo-nos do seu trono. Essa aproximação acontece a partir de qualquer situação quando os joelhos se dobram e os lábios se abrem. Quando decidimos por tal aproximação, o medo que outrora habitava-nos dá lugar à confiança. Somos tomados pela certeza de que tudo já está consumado! O nosso Sumo Sacerdote já fez a purificação última e definitiva dos nossos pecados. À medida que aproximamo-nos do seu trono, somos recebidos pela misericórdia e pela graça. Ele não retribui-nos conforme merecemos. Muito pelo contrário! Ele dá-nos exatamente o que não merecemos. Por fim, tendo chegado diante do trono, recebemos também toda a ajuda de que necessitamos para viver a vida. Pecados... acontecerão; fraquezas... serão experimentadas; ambiguidades... ainda farão parte da caminhada. Todavia, o Sumo sacerdote que assenta-se no trono estará no mesmo lugar, cheio de misericórdia e de graça, esperando sempre pela nossa chegada.
Está em crise de fé? Confie tão somente em Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Ele é o caminho para você sair dessa terrível situação.
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Marcas e desafios...

O Foro Teologico Jueves foi considerado por muitos participantes como o ponto mais alto do CLADE V. Se não foi o mais alto, certamente foi o mais propositivo. O espanhol Juan José Tamayo, teólogo da libertação, foi convidado para analisar a FTL e a Teologia da Missão Integral. O que segue é um resumo de sua palestra.
Tamayo deu início à sua fala apresentado o que considera ser as três virtudes teologais
do ecumenismo ou da unidade cristã: a fé em Jesus de Nazaré, a esperança em seu Reino, e o amor a Deus e ao próximo. Tendo dito isso, dividiu a sua palestra em três partes.
Na primeira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Como chegamos até aqui? Em uma frase, disse que a caminhada até aqui foi marcada pelo descobrimento de comunidades vivas, ativas celebrantes e festivas.
Na segunda parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são as marcas identificadoras da FTL? Para ele, a FTL possui, pelo menos, nove marcas identificadoras. A primeira marca é a missão, entendida como o anúncio do Reino de Deus e sua justiça. A segunda marca é o compromisso como uma práxis que evidencie esse Reino. A terceira marca é a reflexão, o pensar a fé. Nesse pensar, três equívocos são evitados: o intelectualismo, que converte o cristianismo num projeto para sábios; o ativismo, que não deixa tempo para o exercício do pensamento; e o irracionalismo, que considera absurdo crer. A quarta marca é a plataforma de diálogo, entre distintos e distantes setores da igreja na América Latina. Para tal é necessário um deslocamento do pensamento único para o pensamento plural e das guerras religiosas para os encontros religiosos. As diferenças que aparecem não são motivos de enfrentamento e distanciamento, mas ocasiões de diálogos. A quinta marca é a hermenêutica bíblica contextual. Essa hermenêutica acontece num círculo: da Palavra de Deus à sociedade; da sociedade à Palavra de Deus. Ou, como dizia Carlos Mesters, num "Triângulo Hermenêutico", de pretexto, texto e contexto. A sexta marca é a herança. Tal herança conforma-se à tradição, mas olha para o futuro, motivada pela utopia ou esperança. A sétima marca é a Missão Integral da Igreja, realizada pelo discipulado integral. Integral é entendido como antônimo de parcial e sinônimo de integridade, tanto da mensagem quanto da vida. A oitava marca é o Espírito Santo, aquele que é o protagonista da missão da Igreja. A nona e última marca é a contextualização, referente à América Latina.
Na terceira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são os desafios para a Missão Integral no futuro? De maneira didática e dialética (sempre do negativo ao positivo), ele propôs dez desafios à igreja latino-americana. O primeiro desafio é responder à pobreza estrutural e aos movimentos de luta contra a pobreza. Desse desafio surgirá uma igreja solidária, uma igreja da libertação integral, uma igreja dos pobres. O segundo desafio é responder à globalização neoliberal excludente e à alter globlalização inclusiva. A alter globalização é um movimento que opõe-se aos efeitos negativos da globalização econômica. Desse desafio surge uma igreja contra hegemônica, um igreja contra imperial. O terceiro desafio é responder ao patriarcado e ao feminismo, como alternativa. Segundo ele, a igreja ainda é patriarcal na organização, na doutrina, na moral e na linguagem. Logo, o feminismo aparece como uma filosofia de igualdade e um movimento social de libertação das mulheres. Desse desafio surgirá uma igreja comunitária e fraterna, onde a mulher também seja sujeito. O quarto desafio é responder à destruição do meio ambiente e à consciência ecológica. Desse desafio surgirá uma igreja que não seja uma organização antropocêntrica, mas uma comunidade ecológica, comunidade que defenda os direitos da natureza. O quinto desafio é responder ao neocolonialismo e à descolonização das igrejas. Desse desafio surgirá uma igreja autóctone, uma igreja latino-americana. O sexto desafio é responder à uniformidade cultural e à interculturalidade. Desse desafio surgirá uma igreja universal, uma igreja intercultural. O sétimo desafio é responder ao fundamentalismo, instalado nas cúpulas, e ao diálogo inter-religioso e social. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo ecumênico, inter-religioso e social. O oitavo desafio é responder ao dogmatismo e à afirmação da ética. Conforme ele pensa, o dogma não pode sobrepor-se ao Evangelho e as verdades eternas não podem sobrepor-se à ética. Desse desafio surgirá uma igreja que recupere os símbolos, porque, como diz Paul Ricoeur, o símbolo dá de pensar, uma igreja que recupere a ética como teologia primeira, assim como Emmanuel Lévinas afirmava a ética como filosofia primeira. O nono desafio é responder à uniformidade e fragmentação, e ao pluralismo eclesiástico. Desse desafio surgirá um igreja plural, sem fragmentação, sem sem exclusão, sem excomunhão, sem inquisidores e sem hereges. O décimo e último desafio é responder às investigações científicas e à condenação à ciência. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo com a ciência e uma igreja que critique os abusos da ciência.
Tamayo finalizou sua fala destacando um palavra que considera mágica: utopia. Para ele, o Reino de Deus é a utopia de Jesus. Assim, ele deve estar em nosso horizonte como estava no de Cristo. É Reino de Deus como lugar de encontro entre transcendência e história; é Reino de Deus em defesa da vida; é Reino de Deus marcado por tensão entre presente e futuro, já e ainda não; é Reino de Deus como libertação dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados.
Da palestra de Tamayo, destaco dois aspectos: um positivo e outro negativo. O positivo refere-se ao seu caráter propositivo da análise. O negativo refere-se à ênfase excessiva no chamado Diálogo Inter-Religioso.
Por fim, agradeço à provocação de Harold Segura, a quem dedico a ele esse breve resumo. Obrigado, mano!
Luiz Felipe Xavier.