quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Esperança em meio ao sofrimento

Nos capítulos 4 e 5 do Evangelho de Marcos, encontramos quatro milagres de Jesus. Esses milagres são uma “avant-première” (primeira apresentação) do Reino de Deus. No primeiro, Jesus acalma uma tempestade; no segundo, Jesus liberta um endemoninhado; no terceiro, Jesus cura uma mulher; e no quarto, Jesus ressuscita a filha de Jairo. Logo, observemos esses dois últimos milagres da perspectiva de Jairo.
Jesus é expulso da região dos gerasenos e volta de barco para a outra margem do lago. Ali, ele é acolhido por uma grande multidão. No meio dessa grande multidão estão duas pessoas que possuem muitas diferenças e uma semelhança. Um homem e uma mulher. O homem é identificado como Jairo e a mulher nem sequer é identificada. Jairo é o importante dirigente da sinagoga e a mulher é a insignificante excluída da sinagoga. Jairo é rico e a mulher tornara-se pobre. Jairo se aproxima de Jesus pela frente, de maneira extravagante, e a mulher se aproxima de Jesus por trás, de maneira discreta. Mas tanto Jairo quanto a mulher se aproximam de Jesus em sofrimento profundo e em total desesperança. Jairo tem uma filha única, de doze anos, que está morrendo. A mulher, há doze anos, sofre com uma hemorragia incurável. Assim, Jairo e a mulher têm em Jesus sua única e última esperança. Em situações de sofrimento profundo descobrimos que Jesus é a nossa única e última esperança. Nessas situações, precisamos tomar três atitudes.
A primeira atitude é aproximar-se de Jesus. Jairo aproxima-se, vê Jesus, prostra-se aos seus pés e o implora pela cura da sua filha. Jairo é um daqueles que conspiraram contra Jesus para matá-lo. Mas, agora, encontra-se em uma situação de sofrimento profundo. Ele nada pode fazer para salvar a vida da sua própria filha. Assim sendo, humilhado, Jairo decide aproximar-se de Jesus. “Minha filha está morrendo! Vem, por favor, e impõe as mãos sobre ela, para que seja curada e que viva”, Jairo pede a Jesus. Jesus ouve aquele pedido desesperado, não diz nada e vai com Jairo.
Assim como Jairo, em meio ao sofrimento, somos desafiados a aproximarmo-nos de Jesus. À medida que nos aproximamos dele, descobrimos que a humilhação do sofrimento pode trazer uma nova perspectiva sobre nós mesmos, sobre as pessoas e sobre a vida. Descobrimos também que o sofrimento profundo pode ser uma excelente oportunidade para nos aproximarmos de Deus. Descobrimos ainda que o silêncio temporário de Deus pode significar sabedoria ao invés de inoperância.
A segunda atitude é esperar por Jesus. Da beira do lago à casa de Jairo, Jesus é acompanhado pela multidão, que o comprime. No meio dessa multidão está uma mulher que sofre de hemorragia. Ela é impura. Isso porque em Lv. 15:25 está escrito: “Quando uma mulher tiver um fluxo de sangue por muitos dias fora da sua menstruação normal, ou um fluxo que continue além desse período, ela ficará impura enquanto durar o corrimento, como nos dias da sua menstruação.”. Conforme José Antonio Pagola, os enfermos da Galiléia consideravam o seu mal de um ponto de vista religioso: “Se Deus, o criador da vida, está retirando deles seu espírito vivificador, é sinal de que os está abandonando.”. Essa mulher se sente impura e abandonada, tanto por Deus quanto pela sociedade. Ela gasta tudo o que tem com médicos e só piora. Quando ouve falar de Jesus, ela pensa: “Se eu tão somente tocar em seu manto ficarei curada.”. Então, é exatamente isso que ela faz. No meio da multidão, chega por trás, toca no manto de Jesus e fica imediatamente curada. No mesmo instante, Jesus sente que dele sai poder, vira-se para a multidão e pergunta: “Quem tocou em meu manto?” Os discípulos pensam que essa pergunta é uma piada. Tremendo, a mulher se reaproxima, prostra-se e conta-lhe toda a verdade. Jesus declara: “Filha a sua fé a curou! Vá em paz e fique livre do seu sofrimento.”.
Aqui uma pergunta se faz necessária: o que Jairo está fazendo enquanto tudo isso acontece? Ele está esperando por Jesus. Enquanto a mulher curada não cabe em si de alegria, Jairo não cabe em si de aflição. Ele sabe que este “tempo perdido” pode custar a vida da sua filha. Assim como Jairo, em meio ao sofrimento, somos desafiados a esperar por Jesus. À medida que esperamos por ele, descobrimos que não somos os únicos que sofrem neste mundo. Descobrimos também que enquanto esperamos pela ação de Deus em nosso favor, ele permanece conosco. Descobrimos ainda que Deus nunca se atrasa, porém, faz tudo quando quer, como quer e a quem quer.
A terceira atitude é confiar em Jesus. Enquanto Jesus ainda está falando com a mulher, chegam algumas pessoas da casa de Jairo com a notícia que sua filha morreu e que, por isso, ele não precisa mais incomodar o mestre. Jesus, todavia, ignora completamente esta notícia e diz a Jairo: “Não tenha medo; tão somente creia.”. De agora em diante, só Pedro, Tiago e João seguem com Jesus. Eles chegam à casa de Jairo e encontram um alvoroço, com gente chorando e se lamentando em alta voz. Ao entrar na casa, Jesus faz uma pergunta provocante e uma afirmação chocante: “Por que todo este alvoroço e lamento? A criança não está morta, mas dorme.”. Ouvindo isso, aqueles que choravam começam a rir de Jesus. Jesus os expulsa da casa, toma consigo o pai e a mãe da criança, e os três discípulos que estavam com ele, e entra no lugar onde o corpo da menina fora colocado. Ali, Jesus a toma pela mão e declara: “Talita cumi!”, que significa “menina, eu lhe ordeno, levante-se!”. Ele usa a mesma expressão que uma mãe usa para acordar sua filha de manhã: “Menina, está na hora, levante!”. Ao ouvir estas doces palavras de Jesus, a menina se levanta e anda. Por fim, Jesus ordena a todos que não contem nada a ninguém e manda os pais darem comida à menina.
Assim como Jairo, em meio ao sofrimento, somos desafiados a confiar em Jesus. À medida que confiamos nele, descobrimos que enquanto o alívio do nosso sofrimento não chega, o que está ruim pode piorar. Descobrimos também que embora as más notícias afetem as nossas emoções, elas não podem afetar a nossa fé. Descobrimos ainda que o sofrimento faz parte da nossa história, contudo, jamais terá a palavra final.
Que Deus, por sua graça, renove a nossa esperança em meio ao sofrimento!

Luiz Felipe Xavier.