quarta-feira, 29 de agosto de 2018

MUITO PERDÃO E MUITO AMOR

No Evangelho de Lucas, Jesus conta quatro parábolas enquanto está na Galiléia. Dessas, a única tipicamente lucana é a Parábola dos Dois Devedores (Lc. 7:36-50). Nessa parábola, Jesus nos ensina que aquele que é muito perdoado muito ama. Ele nos ensina também que o nosso amor a Deus é proporcional à nossa consciência do perdão que recebemos dele. Logo, observemos três efeitos desta experiência com o perdão de Deus.

Quem experimentou o perdão de Deus se humilha diante de Deus

Jesus é convidado para jantar na casa de um fariseu. Num dia de banquete, a casa fica aberta e os convidados ocupam a sala, onde há uma mesa longa e baixa. Ali, eles se reclinam sobre o cotovelo e mantêm os pés afastados. Geralmente, os servos e os curiosos ficam atrás do dono da casa e dos seus convidados. Enquanto o jantar acontece, uma mulher ‘pecadora’, provavelmente uma prostituta, fica sabendo que Jesus está na casa do fariseu e vai até lá. Ela traz um perfume e se coloca atrás de Jesus, no lugar dos servos e dos curiosos. Chorando, a mulher molha os pés dele com suas lágrimas, em uma atitude é de total humilhação. Como não tem uma toalha, ela solta seus cabelos e com eles enxuga os pés de Jesus. Soltar os cabelos em público é um ato vergonhoso e sedutor. Além disso, a mulher beija os pés dele, em uma expressão de honra, gratidão e submissão. Como se não bastasse, ela unge os pés de Jesus com um perfume caro que, possivelmente, usava em seus programas. De agora em diante, ela não precisará mais desse perfume. Escandalizado com o que vê, o fariseu diz a si mesmo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma pecadora”. Se a atitude da mulher expressa humildade e gratidão, a atitude do fariseu expressa orgulho e juízo. Com isso, aprendemos que a primeira evidência de que experimentamos o perdão de Deus é a nossa humildade diante dele e a cessação do juízo em relação ao próximo.

Quem experimentou o perdão de Deus ama a Deus

É exatamente neste momento da narrativa que Jesus conta a Parábola dos Dois Devedores a Simão: “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários [salário de pouco mais de um ano de trabalho] e o outro, cinquenta [salário de cerca de dois meses de trabalho]. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?”. Simão responde: “Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. Ouvindo a resposta de Simão, Jesus afirma: “Você julgou bem”. Assim, o princípio espiritual dessa parábola é claro: o nosso amor a Deus é proporcional à nossa consciência do perdão que recebemos dele. O fariseu Simão, por considerar que foi pouco perdoado, ama pouco. Já a mulher pecadora, por considerar que foi muito perdoada, ama muito. Além disso, da parábola infere-se que todos nós somos devedores a Deus. Alguns têm a consciência de que devem mais e outros a consciência de que devem menos. O problema é que nenhum de nós pode pagar o que deve a Deus. Mas, todos nós podemos receber o perdão da parte dele. Este é o Evangelho! Por sua infinita misericórdia, o Deus Santo perdoa livremente os pecadores culpados. Agora, a pergunta é: como respondemos a esse perdão? Com amor. Amor a Deus, em obediência, e amor ao próximo, em serviço. Com isso, aprendemos também que a segunda evidência de que experimentamos o perdão de Deus é o nosso amor a ele, expresso no amor ao próximo.

Quem experimentou o perdão de Deus desfruta da paz de Deus

Tendo contado a Parábola dos Dois Devedores, Jesus vira-se para a mulher e pergunta a Simão: “Vê esta mulher?”. Jesus compara as atitudes de Simão com as atitudes da mulher. Ele o faz para demonstrar quem foi mais perdoado por Deus e quem ama mais a Deus. Esta comparação baseia-se nos costumes relacionados à hospitalidade. Simão deveria ter dado água a Jesus para lavar os pés e não o deu. Em contrapartida, a mulher molhou os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Simão deveria ter saudado a Jesus com um beijo na face e não o saudou. Em contrapartida, a mulher não parou de beijar os pés de Jesus. Simão deveria ter ungido a cabeça de Jesus com óleo e não a ungiu. Em contrapartida, a mulher derramou perfume nos pés de Jesus. Ou seja, a mulher fez tudo o que Simão deveria ter feito e não fez. Assim sendo, Jesus declara: “os muitos pecados dela lhe foram perdoados; pois ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama”. Aqui, a melhor tradução seria: “os muitos pecados dela lhe foram perdoados; portanto ela amou muito”. Isso significa que o amor é consequência do perdão, não a sua causa. Por fim, Jesus faz duas afirmações libertadoras à mulher. A primeira afirmação é: “Seus pecados estão perdoados”. Quando ele diz isso, os outros convidados começam a perguntar: “Quem é este que até perdoa pecados?”. Jesus é um profeta que conhece o coração de Simão e que anuncia o perdão de Deus à mulher. A segunda afirmação é: “Sua fé a salvou; vá em paz”. Jesus deixa claro que a salvação é pela graça, recebida mediante a fé somente. Como resultado, aquele que foi salvo desfruta da paz de Deus. Com isso, ainda aprendemos que a terceira evidência de que experimentamos o perdão de Deus é o nosso desfrutar da sua paz.

Que Deus, por sua graça, nos dê a consciência de que fomos muito perdoados para que muito amemos!

Luiz Felipe Xavier.