sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Igreja: reflexo da graça de Deus


A graça de Deus é um dos principais temas de Hebreus. Lendo essa carta, percebemos que a graça de Deus é revelada em Jesus, é recebida pessoalmente e é refletida coletivamente. Ela é refletida coletivamente pela igreja. É exatamente por isso que o autor de Hebreus afirma: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns.” (10:25a).
Essas palavras, ditas no século I, alcançam nossos ouvidos hoje, no século XXI, gerando certo incômodo. Isso porque, numa época marcada por individualismo, temos visto crescer o número de pessoas que afirmam: “Jesus, sim; igreja, não!”. Para essas pessoas, é possível seguir a Jesus sem pertencer a uma igreja local. Mas, ao que parece, para o autor de Hebreus essa possibilidade não existe. Não existe porque, como disse anteriormente, é na igreja que a graça de Deus é refletida. A grande pergunta é: como?
Primeiro, considerando uns aos outros para o incentivo ao amor e às boas obras (cf. 10:24). É na igreja que aprendemos a praticar o amor que, por definição, pressupõe o outro. Aprendemos a praticar o amor, especialmente, quando nos dispomos a praticar boas obras. Essas boas obras devem ser mutuamente incentivadas. Eu preciso incentivar o meu irmão e o meu irmão precisa me incentivar. Essas boas obras também devem ser, ao mesmo tempo, dentro e fora do círculo da igreja. São dentro, quando dentro houver necessidade; porém, são fora, quando fora houver necessidade. Essas boas obras devem ainda ser norteadas pela necessidade que nos é apresentada e pela possibilidade que temos de suprir tal necessidade. Ao mesmo tempo em que temos a consciência de que não somos “messias”, precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para servir ao nosso próximo, seja ele um irmão ou não.
Segundo, imitando o exemplo daqueles que, por meio da fé, receberam a herança prometida (Cf. 6:12). É na igreja que aprendemos com os exemplos uns dos outros. Isso significa que eu aprendo com a vida do meu irmão e o meu irmão aprende com a minha vida. Logo, tanto eu quanto o meu irmão precisamos viver uma vida bonita, uma vida que inspire, uma vida que seja parecida com a de Jesus. Significa também que aqueles que caminharam mais têm mais a ensinar aqueles que caminharam menos. Isso é discipulado! Significa ainda que essa caminhada é motivada pela esperança. Esperança de alcançarmos a herança prometida por Deus.
Terceiro, esforçando-nos para viver em paz com todos e para ser santos (Cf. 12:14). A vida na igreja deve ser vivida em paz. Para isso, algo é demandado de cada um de nós: esforço. Viver em paz não é tarefa fácil. Não o é porque, vez por outra, ofendemos uns aos outros. Quando isso acontece, um esforço é requerido de cada um de nós: o esforço da reconciliação. Para tal, é necessário perdoar e ser perdoado. O efeito desse esforço pela reconciliação é a santificação. À medida que ofendemos ao nosso irmão e procuramos reconciliação, Deus está trabalhando em nossas vidas, tornando-nos mais santos.
Quarto, cuidando para que ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e que não haja imoral e profano (Cf. 12:15-16). A igreja é um ambiente onde devemos exercitar o cuidado mútuo. Exercitamos o cuidado mútuo quando não permitimos que ninguém se exclua da graça de Deus. Notem: a graça não exclui ninguém, mas alguém pode se excluir da graça. Alguém se exclui da graça quando não consegue mais se ver perdoado por Deus e desiste de si mesmo. Exercitamos cuidado mútuo também quando não permitimos que nenhuma raiz de amargura brote, tanto no nosso coração quanto no coração do nosso irmão. Constantemente, precisamos fazer um auto exame e ajudar o nosso irmão a fazer o mesmo. Se o nosso coração está amargurado, tendemos a nos afastar. Exercitamos o cuidado mútuo ainda quando não permitimos que haja no nosso meio imoral ou profano. Em geral, imoralidade e profanação são consequências naturais do afastamento anterior. Uma vez que alguém se afasta da igreja, é natural que perca também os referenciais dos valores éticos do Reino de Deus, tornando-se alguém imoral e profano. É com a intenção que ninguém chegue nesse terrível estado que precisamos exercitar o cuidado mútuo.
Quinto e último, encorajando uns aos outros, de modo que ninguém seja endurecido pelo engano do pecado. (Cf. 3:13). É na igreja que encorajamos uns aos outros nos altos e baixos da vida. Isso significa que ninguém está bem o tempo todo e que ninguém está mal o tempo todo. Significa também que quando eu estou mal eu preciso ser encorajado por quem está bem e que quando eu estou bem eu preciso encorajar quem está mal. Significa ainda que todos nós, de tempos em tempos precisamos ser encorajados e encorajar. O resultado desse encorajamento mútuo é que ninguém terá o coração endurecido pelo engano do pecado.
A carta aos Hebreus tem muitas outras indicações acerca de como a graça de Deus é refletida coletivamente pela igreja. Por hora, bastam essas cinco. Que Deus nos leve a discernir que a igreja, quando é Igreja, é o projeto mais fascinante da terra!
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção.