quarta-feira, 15 de abril de 2020

SUPERANDO AS CRISES DA VIDA

Guernica”, de Pablo Picasso
Joel faz parte dos chamados “profetas menores”, aqueles cujas mensagens são mais resumidas. Seu nome significa “O Senhor é Deus”. Na cultura hebraica, os pais escolhem os nomes dos seus filhos pelo seu significado espiritual. Logo, o nome Joel expressa a singularidade de Deus, num contexto politeísta, e a soberania de Deus, num contexto de caos. Joel é filho de Petuel e, provavelmente, pertence à classe sacerdotal. Também é provável que ele esteja profetizando nos tempos do rei Joás (c.a. 830-810 a.C.). Joel profetiza de Jerusalém para todo o reino de Judá. Ele antevê um tempo de crise e orienta sobre a sua superação.
Crise é uma situação de instabilidade, geralmente provocada por alguma mudança. Essa instabilidade requer um esforço extra para reencontrar a estabilidade. Aqui cabe a pergunta: quais são as crises pelas quais passamos? Passamos por crises familiares, quando há atritos nos relacionamentos entre marido e mulher, pais e filhos, etc.. Passamos por crises financeiras, quando há desemprego, recolocação em condição inferior, falência, dívida, etc.. Passamos por crises de saúde, quando há doenças, acidentes, pandemias – como a do Covid-19 que nos assola hoje. Passamos por crises existenciais, quando surgem as questões da juventude, da meia idade e da velhice. E passamos por crises espirituais, quando há abalo ou ausência de fé. As crises fazem parte da vida de qualquer ser humano. Em Joel 1, encontramos três importantes orientações que nos ajudarão a superar as crises da vida.

Toda crise pode trazer consigo elementos jamais vistos

A crise nos dias de Joel é uma crise jamais vista. É por isso que ele chama os anciãos e todos os habitantes do país e pergunta: já aconteceu algo assim nos seus dia ou nos dias dos seus antepassados? Joel descreve o que acontecerá pintando um quadro de destruição total. A famosa “Guernica”, de Pablo Picasso, não chega nem aos pés da pintura de Joel. Como em quase todo o Antigo Testamento, o cenário é agropastoril. As pessoas vivem no campo, da agricultura e da pecuária. Em breve, esse cenário será marcado por gafanhotos destruidores, por seca rigorosa, por fogo intenso e por fome mortal. O que espera a todos é a morte. Joel afirma que isso nunca havia acontecido antes porque cada crise traz consigo elementos jamais vistos. As nossas crises também trazem elementos jamais vistos. Assim, nós precisamos tomar consciência disso. Planejamento, quando possível, ajuda, mas não resolve. Por isso, em meio à crise, a primeira coisa que precisamos aprender é lidar com o novo.

Toda crise pode contribuir para o crescimento pessoal

Além de pintar o quadro da crise, Joel ensina às pessoas a crescer em meio à crise. Nessa orientação, três verbos se destacam. O primeiro verbo é: acordem! O profeta diz: “Acordem, bêbados, e chorem! Lamentem-se todos vocês bebedores de vinho; gritem por causa do vinho novo, pois ele foi tirado dos seus lábios.”. A embriaguês implica fuga da realidade. A quem opta por isso, Joel afirma: acordem! O vinho acabou. Ou seja, venham para a realidade. Em meio à crise, a nossa realidade pode ser tão dura que pensamos em fugir dela. O grande problema é que a fuga da realidade não ajuda em nada e ainda pode retardar o processo de superação da crise. Assim sendo, em meio à crise, nós precisamos de um “choque de realidade”, não de uma fuga da realidade. Nós precisamos acordar.
O segundo verbo que se destaca na orientação de Joel é: pranteiem! É natural que o “choque de realidade” leve ao pranto. O profeta diz: “Pranteiem como uma virgem em vestes de luto que se lamenta pelo noivo da sua mocidade.”. Os hebreus conhecem dois exemplos terríveis de luto: o luto pela morte do noivo (a conseqüência é a inexistência de herdeiros) e o luto pela morte do filho único (a conseqüência é a perda do nome). Joel lança mão do primeiro exemplo para afirmar ao povo: pranteiem! Mais do que prantear pela realidade na qual vocês estão inseridos, pranteiem porque vocês estão impedidos de superá-la por si mesmos. Enquanto lidamos com as nossas crises, precisamos chorar. Chorar é terapêutico em tempos de crise. É terapêutico porque nos ajuda a lidar com as nossas perdas concretas. Então, tempo de chorar é tempo de chorar.
O terceiro verbo que se destaca na orientação de Joel é: desesperem-se! Mais do que acordar e prantear, ainda é necessário se desesperar. Aqui surge uma pergunta: a mensagem cristã não é a mensagem da esperança? Sim, porém, o profeta diz: “Desesperem-se, agricultores, chorem produtores de vinho; fiquem aflitos pelo trigo e pela cevada, porque a colheita foi destruída. A vinha está seca, e a figueira murchou; a romãzeira, a palmeira, a macieira e todas as árvores do campo secaram. Secou-se, mais ainda, a alegria dos homens.”. Quando os agricultores querem colocar a sua esperança em algo que já não existe mais, Joel afirma: desesperem-se! Isto é, tirem a esperança de vocês do que já passou. Enquanto passamos pelas nossas crises, também precisamos ouvir: desesperem-se! Isso porque, ao invés de investir tempo e energia no que existe como possibilidade adiante, gastamos tempo e energia com o que não existe mais, com o que já passou. Conseqüentemente, precisamos ser tomados de desesperança para com aquilo que ficou para trás. Quando isso acontecer, seremos cheios de esperança para olhar para frente e recomeçar.

Toda crise pode ser uma oportunidade de aproximar-se de Deus

Tendo pintado o quadro da crise e orientado as pessoas a crescer em meio à crise, Joel apresenta a maior de todas as oportunidades da crise: a oportunidade de aproximar-se de Deus. Como isso é possível? Primeiro, através do jejum. “Decretem um jejum santo”. O jejum é um sinal visível de humilhação perante Deus. Jejuamos sobretudo para tomar consciência da constante presença de Deus conosco, algo difícil em tempos de crise. Além disso, jejuamos para tomar consciência de nós mesmos e para nos identificar minimamente com os que passam fome. Segundo, podemos nos aproximar de Deus através da comunhão. “Convoquem uma assembléia sagrada”. Embora possamos buscar a Deus sozinhos, melhor é buscá-lo em companhia de outras pessoas que também passam por crises. Nestes dias de distanciamento físico, uma boa alternativa são os encontros virtuais. Lembremo-nos que virtual é diferente de presencial, não de real. Terceiro, podemos nos aproximar de Deus através da oração. “Clamem ao Senhor”. O tempo de crise é também o tempo de oração. É, acima de tudo, o tempo da intercessão uns pelos outros. É o tempo de expressar a Deus a nossa total dependência dele. É o tempo de rasgar o coração na presença dele e clamar por socorro. É o tempo de apresentar nossa ansiedade a ele e nos apropriarmos da sua paz.

Que assim seja!

Luiz Felipe Xavier.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Hoje, ela completaria 100 anos


Se estivesse viva, minha avó Dayse completaria 100 anos hoje.

Ela foi uma mulher temente a Deus e amante da sua Palavra. Por apreciar de modo especial os Salmos, chamava a si mesma de “Salmista”. Mas, certamente, “Generosidade” também poderia ser um dos seus nomes. Foi ela quem pediu a Deus que um dia eu fosse um pastor. E frente às dificuldades da vida, era ela quem sempre me dizia: “Em tudo dai graças, em tudo.”.

Iá-Iá, era assim que eu a chamava, você faz muita falta. Há 10 anos você foi se encontrar com o nosso Deus, deixando-nos uma incalculável herança espiritual. Em breve, estaremos juntos por toda a eternidade.

Te amei, te amo e te amarei!

Seu primeiro neto, Luiz Felipe.