quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Marcas e desafios...

O Foro Teologico Jueves foi considerado por muitos participantes como o ponto mais alto do CLADE V. Se não foi o mais alto, certamente foi o mais propositivo. O espanhol Juan José Tamayo, teólogo da libertação, foi convidado para analisar a FTL e a Teologia da Missão Integral. O que segue é um resumo de sua palestra.
Tamayo deu início à sua fala apresentado o que considera ser as três virtudes teologais
do ecumenismo ou da unidade cristã: a fé em Jesus de Nazaré, a esperança em seu Reino, e o amor a Deus e ao próximo. Tendo dito isso, dividiu a sua palestra em três partes.
Na primeira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Como chegamos até aqui? Em uma frase, disse que a caminhada até aqui foi marcada pelo descobrimento de comunidades vivas, ativas celebrantes e festivas.
Na segunda parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são as marcas identificadoras da FTL? Para ele, a FTL possui, pelo menos, nove marcas identificadoras. A primeira marca é a missão, entendida como o anúncio do Reino de Deus e sua justiça. A segunda marca é o compromisso como uma práxis que evidencie esse Reino. A terceira marca é a reflexão, o pensar a fé. Nesse pensar, três equívocos são evitados: o intelectualismo, que converte o cristianismo num projeto para sábios; o ativismo, que não deixa tempo para o exercício do pensamento; e o irracionalismo, que considera absurdo crer. A quarta marca é a plataforma de diálogo, entre distintos e distantes setores da igreja na América Latina. Para tal é necessário um deslocamento do pensamento único para o pensamento plural e das guerras religiosas para os encontros religiosos. As diferenças que aparecem não são motivos de enfrentamento e distanciamento, mas ocasiões de diálogos. A quinta marca é a hermenêutica bíblica contextual. Essa hermenêutica acontece num círculo: da Palavra de Deus à sociedade; da sociedade à Palavra de Deus. Ou, como dizia Carlos Mesters, num "Triângulo Hermenêutico", de pretexto, texto e contexto. A sexta marca é a herança. Tal herança conforma-se à tradição, mas olha para o futuro, motivada pela utopia ou esperança. A sétima marca é a Missão Integral da Igreja, realizada pelo discipulado integral. Integral é entendido como antônimo de parcial e sinônimo de integridade, tanto da mensagem quanto da vida. A oitava marca é o Espírito Santo, aquele que é o protagonista da missão da Igreja. A nona e última marca é a contextualização, referente à América Latina.
Na terceira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são os desafios para a Missão Integral no futuro? De maneira didática e dialética (sempre do negativo ao positivo), ele propôs dez desafios à igreja latino-americana. O primeiro desafio é responder à pobreza estrutural e aos movimentos de luta contra a pobreza. Desse desafio surgirá uma igreja solidária, uma igreja da libertação integral, uma igreja dos pobres. O segundo desafio é responder à globalização neoliberal excludente e à alter globlalização inclusiva. A alter globalização é um movimento que opõe-se aos efeitos negativos da globalização econômica. Desse desafio surge uma igreja contra hegemônica, um igreja contra imperial. O terceiro desafio é responder ao patriarcado e ao feminismo, como alternativa. Segundo ele, a igreja ainda é patriarcal na organização, na doutrina, na moral e na linguagem. Logo, o feminismo aparece como uma filosofia de igualdade e um movimento social de libertação das mulheres. Desse desafio surgirá uma igreja comunitária e fraterna, onde a mulher também seja sujeito. O quarto desafio é responder à destruição do meio ambiente e à consciência ecológica. Desse desafio surgirá uma igreja que não seja uma organização antropocêntrica, mas uma comunidade ecológica, comunidade que defenda os direitos da natureza. O quinto desafio é responder ao neocolonialismo e à descolonização das igrejas. Desse desafio surgirá uma igreja autóctone, uma igreja latino-americana. O sexto desafio é responder à uniformidade cultural e à interculturalidade. Desse desafio surgirá uma igreja universal, uma igreja intercultural. O sétimo desafio é responder ao fundamentalismo, instalado nas cúpulas, e ao diálogo inter-religioso e social. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo ecumênico, inter-religioso e social. O oitavo desafio é responder ao dogmatismo e à afirmação da ética. Conforme ele pensa, o dogma não pode sobrepor-se ao Evangelho e as verdades eternas não podem sobrepor-se à ética. Desse desafio surgirá uma igreja que recupere os símbolos, porque, como diz Paul Ricoeur, o símbolo dá de pensar, uma igreja que recupere a ética como teologia primeira, assim como Emmanuel Lévinas afirmava a ética como filosofia primeira. O nono desafio é responder à uniformidade e fragmentação, e ao pluralismo eclesiástico. Desse desafio surgirá um igreja plural, sem fragmentação, sem sem exclusão, sem excomunhão, sem inquisidores e sem hereges. O décimo e último desafio é responder às investigações científicas e à condenação à ciência. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo com a ciência e uma igreja que critique os abusos da ciência.
Tamayo finalizou sua fala destacando um palavra que considera mágica: utopia. Para ele, o Reino de Deus é a utopia de Jesus. Assim, ele deve estar em nosso horizonte como estava no de Cristo. É Reino de Deus como lugar de encontro entre transcendência e história; é Reino de Deus em defesa da vida; é Reino de Deus marcado por tensão entre presente e futuro, já e ainda não; é Reino de Deus como libertação dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados.
Da palestra de Tamayo, destaco dois aspectos: um positivo e outro negativo. O positivo refere-se ao seu caráter propositivo da análise. O negativo refere-se à ênfase excessiva no chamado Diálogo Inter-Religioso.
Por fim, agradeço à provocação de Harold Segura, a quem dedico a ele esse breve resumo. Obrigado, mano!
Luiz Felipe Xavier.

Nenhum comentário:

Postar um comentário