quinta-feira, 31 de março de 2016

Uma Igreja relevante para a sociedade

“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo suplicamos: Reconciliem-se com Deus. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:17-21NVI)
Uma Igreja relevante para a sociedade... Mas de qual Igreja estamos falando? Estamos falando da Igreja de Jesus Cristo. Esta Igreja é formada por aqueles que ouviram e creram no Evangelho do Reino de Deus. Basicamente, este Evangelho diz que o Pai tem um plano de reconciliação. Tal reconciliação é necessária porque houve rupturas. No início da história, o ser humano rompe com Deus, rompe consigo mesmo, rompe com o próximo e rompe com a criação. Esta é a extensão do que chamamos “queda”.
O Evangelho diz também que o Filho realiza este plano de reconciliação na história. Ele deixa a sua glória eterna e se esvazia; ele se faz homem e vive entre nós como um servo humilde; ele anuncia a proximidade ou acessibilidade do Reino de Deus e sinaliza concretamente este Reino; ele é movido por amor compassivo e anda por toda parte fazendo o bem a todos; ele morre injustamente numa cruz e ressuscita três dias depois; ele vive e voltará para tornar plena a reconciliação que já começou. Jesus é, portanto, o centro da reconciliação.
O Evangelho diz ainda que o Espírito Santo atualiza e dinamiza este plano hoje. Ele age na história, reconciliando pessoas com Deus, consigo mesmas, com o próximo e com a criação. Uma vez reconciliadas, essas pessoas tornam-se parte da Igreja, vitrine da reconciliação. Mais do que a ser vitrine, a Igreja é chamada a ser agência da reconciliação em realidades ainda marcadas pelas rupturas humanas. Logo, enquanto todas as coisas não estiverem reconciliadas com o Pai, em Cristo, a Igreja, no poder do Espírito Santo, está em missão na sociedade. Esta missão foi, é e sempre será a reconciliação. Vale sublinhar que, uma vez que as rupturas são integrais, a missão de reconciliação da igreja na sociedade também é integral.
Mas de qual sociedade estamos falando? Da nossa. Vivemos numa sociedade  desigual. Existem muitos pobres e poucos ricos. Só para termos uma idéia, no fim de 2016, estima-se que 1% da população mundial terá mais riqueza que os 99% restantes. Vivemos numa sociedade violenta. Existe muita guerra e pouca paz. A América Latina tem 9% da população mundial e é responsável por 33% dos assassinatos do mundo. No Brasil, esses assassinatos são, principalmente, de jovens pobres e negros. Vivemos numa sociedade paradoxal. Existe muito mais formação profissional do que existia num passado recente e ainda existe pouca qualificação profissional como demandará um futuro próximo. Em nosso país, embora a taxa de desemprego ainda esteja baixa, 8,2%, os jovens são aqueles que têm mais dificuldades de se inserir no mercado de trabalho. Vivemos numa sociedade consumista. Existe muita busca pelo ter e pouca busca pelo ser. Neste contexto, infelizmente, o desejo sobrepõe-se à necessidade. Vivemos numa sociedade globalizada. Existe muita informação e pouca crítica. Se antes o problema era o acesso à informação, hoje o problema é a seleção da informação.
Também vivemos numa sociedade conectada. Existe muita virtualidade e pouca realidade. Estamos vivendo a era das chamadas redes sociais, com todos os seus malefícios e benefícios. Vivemos numa sociedade polarizada. Existe muito ódio e pouco amor. Os extremos da direita e da esquerda estão cada vez mais acentuados e a tensão nos relacionamentos cresce. Vivemos numa sociedade perdida. Existe muita ação e pouca direção. Palavras como “significado”, “sentido” e “liderança” estão entrando em extinção. Vivemos numa sociedade pluralista. Existe muitos relativos e poucos absolutos. Tal realidade se configura tanto como um desafio quanto como uma oportunidade. Vivemos numa sociedade sincrética. Existe muita religiosidade e pouca espiritualidade. Neste contexto, somos chamados ao relacionamento com o Pai, baseado nos méritos do Filho, através do Espírito Santo.
Por fim, como a Igreja de Jesus Cristo pode ser relevante para a sociedade atual? Quero trazer duas propostas. A primeira é a prática da chamada “Hermenêutica Contextual”. Precisamos ouvir as perguntas que estão sendo feitas na sociedade que nos cerca. De posse dessas perguntas, precisamos nos dirigir à Escritura e procurar nela as respostas. Tendo encontrado as respostas, precisamos retornar à nossa sociedade e proclamá-las, com palavras e ações. Como a sociedade é dinâmica, este movimento circular torna-se constante.
A segunda proposta é o exercício da vocação pessoal. A nossa vocação diz respeito à maneira como servimos a Deus, servindo à sociedade. Uma das formas de expressarmos este serviço é através do nosso trabalho. O nosso trabalho, por sua vez, deve ser uma ação a partir de dois olhares: um olhar para dentro, para as nossas habilidades; e um olhar para fora, para as necessidades que nos cercam. É somente desta maneira que a nossa vocação, expressa pelo nosso trabalho, redundará em realização pessoal e relevância social.
Que Deus, por sua graça, nos ajude a ser uma Igreja relevante para a sociedade! Que, para tal, possamos praticar a “Hermenêutica Contextual” e exercitar a nossa vocação pessoal!
Luiz Felipe Xavier.

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