sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pisou na bola? Como continuar no jogo da vida.


A conhecida expressão “pisar na bola” tem sua origem no chamado mundo do futebol. Todos aqueles que são amantes desse esporte já viram um jogador, que tinha tudo para fazer um belo gol, pisar na bola. Dependendo da pisada, o técnico não pensa duas vezes e o tira do jogo.
Nos nossos relacionamentos interpessoais, pisar na bola é ter uma atitude considerada inaceitável. Maridos pisam na bola com a esposa e a esposa com o marido. Pais pisam na bola com filhos e filhos com os pais. Amigos pisam na bola com amigos, vizinhos com vizinhos, colegas de trabalho com colegas de trabalho, e por aí vai... Pisamos tanto na bola que o Técnico da vida poderia nos tirar do jogo a qualquer momento. Mas, ele mantém-nos em campo porque decidiu escalar seu próprio Filho, o craque dos craques, para colocar-nos na cara do gol e mudar a história do jogo.
Futebol à parte, o Evangelho é mais ou menos isso. O apóstolo Paulo afirma que todos os seres humanos estão debaixo da ira de Deus, porque pisaram na bola com Deus, pecaram contra Deus. Porém, por seu amor eterno, o Filho de Deus entra na nossa história, vive a vida como a vida deve ser vivida, não pisa na bola, não peca. Mesmo assim, morre numa cruz. Morre para perdoar as nossas pisadas na bola, os nossos pecados. Ele é sepultado, ressuscita ao terceiro dia e aparece a muitos. Ressuscita para dar-nos uma nova vida, uma vida como a dele.
A grande pergunta é: como podemos receber esse perdão para os nossos pecados e essa nova vida? Para responder essa pergunta, o apóstolo Paulo apresenta-nos dois grupos e duas atitudes. Todavia, no lugar da bola, apresenta-nos uma pedra. “Que diremos, então? Os gentios, que não buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé; mas Israel, que buscava uma lei que trouxesse justiça, não a alcançou. Por que não? Porque não a buscava pela fé, mas como se fosse por obras. Eles tropeçaram na “pedra de tropeço”. Como está escrito: “Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; e aquele que nela confia jamais será envergonhado”. (Rm. 9:30-33).
Os dois grupos descritos nesses versos são: gentios (os povos em geral) e judeus (o povo de Israel). Cada um deles teve uma atitude: os gentios creram em Jesus e os judeus não. Conforme o apóstolo Paulo Deus justifica, graciosamente, aqueles que colocam sua fé em Jesus, somente. Os gentios estavam fazendo isso e os judeus não. Os gentios estavam buscando uma justiça (ajustar-se das pisadas na bola) que vem de Jesus e que é recebida de graça, pela fé. Eles simplesmente recebiam o perdão ofertado por Deus. Os judeus estavam buscando uma justiça (justificar as pisadas na bola) que vem da lei e que é recebida como mérito, pela obediência. Eles tentavam auto-justificar-se, ao invés de simplesmente receber o perdão ofertado por Deus.
Quanto a esses últimos, o apóstolo Paulo diz: “Eles tropeçaram na “pedra de tropeço”. Quem é essa pedra de tropeço? Essa pedra é Jesus. Diante dessa pedra, só duas atitudes são possíveis: incredulidade, que conduz à queda e à destruição; fé, que conduz à segurança eterna. Todos nós, que pisamos na bola com Deus, que pecamos contra Deus, precisamos decidir que atitude tomaremos diante de Jesus: atitude de incredulidade ou atitude de fé. Dessa atitude depende a nossa continuidade no jogo da vida. Se a atitude for de incredulidade, estaremos caídos e o que nos aguardará é destruição. Se a atitude for de fé, estaremos de pé e o que nos aguardará é a segurança eterna. Esse é o Evangelho da graça!
Voltando ao futebol, encerro contando uma história... Durante algum tempo, ensinei Educação Cristã e Filosofia numa escola de 5ª a 8ª série. Nessa escola, no fim de cada ano, tinha um superclássico entre professores e alunos. Entre os professores, um era genial e o outro era o péssimo dos péssimos. O genial dava aula de Educação Física e o péssimo dos péssimos dava aula de Educação Cristã e Filosofia. Durante o jogo, o genial fazia tudo e rolava para o péssimo dos péssimos só empurrar para as redes. Se ele apenas ficasse parado já era suficiente, pois a bola bateria nele e entraria. Embora o péssimo dos péssimos fizesse muitos gols, ele e todos os demais presentes sabiam que o mérito era todo do genial. Assim também acontece com a nossa salvação. Se dependesse de nós, só pisávamos na bola. Como depende inteiramente de Jesus, conseguimos fazer alguns belos gols. O mérito, todos nós sabemos de quem é: é inteiramente dele, que é o craque dos craques.
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção, por ocasião da "Conversação com Ariovaldo Ramos".

domingo, 11 de novembro de 2012

Superando as crises da vida

Superando as crises da vida

Joel 1:1-20

11 de novembro de 2012

Luiz Felipe Xavier

Faça aqui o download da mensagem e esboço.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

495 anos da Reforma Protestante


Quando ainda era acadêmico na faculdade de Teologia, ouvi de um professor as seguintes palavras: “Todos vocês precisam de três conversões: a primeira, a Jesus Cristo, a segunda, à Reforma Protestante, e a terceira, à América Latina.”. Essas palavras jamais saíram do meu coração.
A Reforma Protestante tem início no dia 31 de outubro de 1517, quando Martinho Lutero fixa suas 95 teses, na porta do castelo de Wittenberg, na Alemanha. Mas, dois séculos antes, movimentos que propunham reforma na Igreja Medieval já espalhavam-se por toda a Europa. Exemplos disso encontramos na Inglaterra, na Boêmia (atual República Tcheca) e na Itália, com João Wycliff, João Hus e Jerônimo Savonarola, respectivamente. Esses preciosos irmãos levantam suas vozes contra as práticas equivocadas da Igreja Medieval e afirmam a autoridade absoluta das Escrituras. Logo, pagam com a própria vida e aram a terra onde a semente da Reforma Protestante é lançada, germina e brota.
As principais teses defendidas pelos reformadores podem ser descritas em “5 Solas”. A primeira é Sola Scriptura. Só a Escritura, corretamente interpretada, é a nossa regra de fé e prática. Ela tem autoridade absoluta sobre nós e a ela devemos nos submeter totalmente. Assim, os reformadores propõem a tradução da Bíblia na língua do povo e a interpretação literal da mesma.
A segunda é Solus Christus. Só pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário é que podemos ser perdoados dos nossos pecados e reconciliados com Deus. O Evangelho é a Boa Notícia de que Jesus morreu pelos nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou e apareceu a muitos. Assim sendo, só há um Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo de Nazaré.
A terceira é Sola Gratia. Só pela maravilhosa graça de Deus podemos ser salvos. Nós, que somos pecadores, merecíamos a morte eterna. Deus, que é Santo, deu-nos, de graça, a vida eterna. Pela graça, nós somos salvos. Isto não vem de nós, nada vem de nós. Antes, é dom de Deus, é presente. Não vem das nossas obras, para que nenhum de nós se glorie. Então, todo mérito da nossa salvação é do Deus de toda graça.
A quarta é Sola Fide. Só pela fé podemos receber, de graça, a nossa salvação. Essa fé também é dom de Deus. É ele quem nos dá. Quando confiamos, única e exclusivamente, no que Cristo realizou por nós na cruz, somos justificados. O Pai imputa-nos, transfere-nos, a justiça do Filho. Conseqüentemente, se a nossa confiança está apenas em Jesus, não seremos condenados pelos nossos pecados. Aleluia!
A quinta e última é Soli Deo Gloria. Só a Deus deve ser dada toda glória pela nossa salvação. Desde a eternidade, Deus Pai nos escolheu e nos predestinou. Na história, Deus Filho derramou o seu sangue para a nossa redenção. Hoje, Deus Espírito Santo dá-nos vida espiritual e nos sela até o dia em que a boa obra iniciada em nossas vidas será levada a bom termo. Portanto, toda a glória da nossa salvação deve ser dada somente ao Deus Trino.
Pouco a pouco, essas teses espalham-se por toda a Europa e por todo o mundo. Grandes coisas o Senhor faz na Alemanha de Martinho Lutero, na Suíça de Ulrico Zuínglio e de João Calvino, na Inglaterra dos tutores de Eduardo VI, na Escócia de João Knox, na França dos Huguenotes e em tantos outros lugares.
Por fim, quero destacar o que Senhor faz entre os anabatistas, nossos pais na fé. O movimento anabatista começa em Zurique, na Suíça, com Conrado Grebel e Félix Mantz. Esses irmãos, que reúnem-se com Ulrico Zuínglio, começam estudar a Bíblia e concluem que precisavam de uma reforma mais radical. Logo, começam a rebatizar os adultos (daí anabatistas) e criticar as autoridades locais. Por tais atitudes são fortemente perseguidos. Alguns morrem, outros fogem.
Dentre os que fugiram encontra-se Miguel Sattler, que passa a viver em Estrasburgo, na Alemanha. Ele é quem preside a chamada “Conferência de Schleitheim”. De tal conferência surge a primeira confissão que define os seguintes princípios anabatistas: ideal de restauração da igreja primitiva; igrejas vistas como congregações voluntárias separadas do Estado; batismo de adultos por imersão; afastamento do mundo; fraternidade e igualdade; pacifismo; proibição do porte de armas, cargos públicos e juramentos. Vale ressaltar ainda que, na Holanda, sob a liderança de Menno Simons, o movimento estabelece-se e cresce.
Desde que Martinho Lutero fixa suas 95 teses, na porta do castelo de Wittenberg, 495 anos se passam. Somos gratos a Deus pelo que ele faz no século XVI e desejamos que ele faça muito mais no século XXI. Que assim seja!
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Introdução ao evangelho de Lucas

Introdução ao evangelho de Lucas

Lucas 1

15 de outubro de 2012

Luiz Felipe Xavier

Faça aqui o download da mensagem.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Igreja: reflexo da graça de Deus


A graça de Deus é um dos principais temas de Hebreus. Lendo essa carta, percebemos que a graça de Deus é revelada em Jesus, é recebida pessoalmente e é refletida coletivamente. Ela é refletida coletivamente pela igreja. É exatamente por isso que o autor de Hebreus afirma: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns.” (10:25a).
Essas palavras, ditas no século I, alcançam nossos ouvidos hoje, no século XXI, gerando certo incômodo. Isso porque, numa época marcada por individualismo, temos visto crescer o número de pessoas que afirmam: “Jesus, sim; igreja, não!”. Para essas pessoas, é possível seguir a Jesus sem pertencer a uma igreja local. Mas, ao que parece, para o autor de Hebreus essa possibilidade não existe. Não existe porque, como disse anteriormente, é na igreja que a graça de Deus é refletida. A grande pergunta é: como?
Primeiro, considerando uns aos outros para o incentivo ao amor e às boas obras (cf. 10:24). É na igreja que aprendemos a praticar o amor que, por definição, pressupõe o outro. Aprendemos a praticar o amor, especialmente, quando nos dispomos a praticar boas obras. Essas boas obras devem ser mutuamente incentivadas. Eu preciso incentivar o meu irmão e o meu irmão precisa me incentivar. Essas boas obras também devem ser, ao mesmo tempo, dentro e fora do círculo da igreja. São dentro, quando dentro houver necessidade; porém, são fora, quando fora houver necessidade. Essas boas obras devem ainda ser norteadas pela necessidade que nos é apresentada e pela possibilidade que temos de suprir tal necessidade. Ao mesmo tempo em que temos a consciência de que não somos “messias”, precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para servir ao nosso próximo, seja ele um irmão ou não.
Segundo, imitando o exemplo daqueles que, por meio da fé, receberam a herança prometida (Cf. 6:12). É na igreja que aprendemos com os exemplos uns dos outros. Isso significa que eu aprendo com a vida do meu irmão e o meu irmão aprende com a minha vida. Logo, tanto eu quanto o meu irmão precisamos viver uma vida bonita, uma vida que inspire, uma vida que seja parecida com a de Jesus. Significa também que aqueles que caminharam mais têm mais a ensinar aqueles que caminharam menos. Isso é discipulado! Significa ainda que essa caminhada é motivada pela esperança. Esperança de alcançarmos a herança prometida por Deus.
Terceiro, esforçando-nos para viver em paz com todos e para ser santos (Cf. 12:14). A vida na igreja deve ser vivida em paz. Para isso, algo é demandado de cada um de nós: esforço. Viver em paz não é tarefa fácil. Não o é porque, vez por outra, ofendemos uns aos outros. Quando isso acontece, um esforço é requerido de cada um de nós: o esforço da reconciliação. Para tal, é necessário perdoar e ser perdoado. O efeito desse esforço pela reconciliação é a santificação. À medida que ofendemos ao nosso irmão e procuramos reconciliação, Deus está trabalhando em nossas vidas, tornando-nos mais santos.
Quarto, cuidando para que ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e que não haja imoral e profano (Cf. 12:15-16). A igreja é um ambiente onde devemos exercitar o cuidado mútuo. Exercitamos o cuidado mútuo quando não permitimos que ninguém se exclua da graça de Deus. Notem: a graça não exclui ninguém, mas alguém pode se excluir da graça. Alguém se exclui da graça quando não consegue mais se ver perdoado por Deus e desiste de si mesmo. Exercitamos cuidado mútuo também quando não permitimos que nenhuma raiz de amargura brote, tanto no nosso coração quanto no coração do nosso irmão. Constantemente, precisamos fazer um auto exame e ajudar o nosso irmão a fazer o mesmo. Se o nosso coração está amargurado, tendemos a nos afastar. Exercitamos o cuidado mútuo ainda quando não permitimos que haja no nosso meio imoral ou profano. Em geral, imoralidade e profanação são consequências naturais do afastamento anterior. Uma vez que alguém se afasta da igreja, é natural que perca também os referenciais dos valores éticos do Reino de Deus, tornando-se alguém imoral e profano. É com a intenção que ninguém chegue nesse terrível estado que precisamos exercitar o cuidado mútuo.
Quinto e último, encorajando uns aos outros, de modo que ninguém seja endurecido pelo engano do pecado. (Cf. 3:13). É na igreja que encorajamos uns aos outros nos altos e baixos da vida. Isso significa que ninguém está bem o tempo todo e que ninguém está mal o tempo todo. Significa também que quando eu estou mal eu preciso ser encorajado por quem está bem e que quando eu estou bem eu preciso encorajar quem está mal. Significa ainda que todos nós, de tempos em tempos precisamos ser encorajados e encorajar. O resultado desse encorajamento mútuo é que ninguém terá o coração endurecido pelo engano do pecado.
A carta aos Hebreus tem muitas outras indicações acerca de como a graça de Deus é refletida coletivamente pela igreja. Por hora, bastam essas cinco. Que Deus nos leve a discernir que a igreja, quando é Igreja, é o projeto mais fascinante da terra!
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Jesus: o caminho para sair da crise de fé


Nos dois últimos meses, tenho refletido sobre a carta aos Hebreus. Essa carta foi escrita a judeus convertidos à fé cristã. Tais judeus cristãos creram no Evangelho, começaram a seguir a Jesus e entraram numa profunda crise de fé. No capítulo 5, entre os versos 11 e 14, o autor apresenta-nos essa triste situação: “Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender. Embora a esta altura já devessem ser mestres, precisem de alguém que ensinem a vocês novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal.”.
Assim como os judeus cristãos passaram por crise de fé, hoje, muitos de nós também passam por crise de fé. Logo, a pergunta é: o que precisamos fazer para sair dessa crise? A carta inteira é uma resposta a essa pergunta. Aqui, quero apresentar uma parte, a mais importante, diga-se de passagem, dessa resposta: Jesus.
No capítulo 4 de Hebreus, entre os versos 14 e 16, encontramos uma das mais belas descrições sobre Jesus. Diz-nos o texto: “Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.”.
Que verdade maravilhosa e encorajadora! A esperança para pessoas pecadoras, fracas e ambíguas como nós está em nosso Sumo Sacerdote, a saber, em Jesus, o Filho de Deus. Primeiro, esse Sumo Sacerdote é grande. Se o sumo sacerdote judaico era apenas um homem, ele é também o Filho de Deus. Ele é Deus que se fez homem para levar o homem de volta a Deus. Segundo, esse Sumo Sacerdote adentrou os céus. Se o sumo sacerdote judaico entrava apenas no santo dos santos, uma vez por ano, ele adentrou os céus, de uma vez por todas. Não há mais necessidade de sacrificar animais para ser perdoado por Deus, pois o único sacrifício suficiente já foi feito, de forma última e definitiva, na presença de Deus e dos homens. Terceiro, esse Sumo Sacerdote pode compadecer-se das nossas fraquezas. O texto afirma que ele passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Ele identificou-se conosco em nossas fraquezas e compadece-se de nós em nossas necessidades.
Sabem o que isso significa? Isso significa que nenhum de nós é uma surpresa para Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Quando ele derramou seu sangue sabia, exatamente, que tipo de pessoa estava comprando. Ele sabia que somos pecadores, sabia que somos fracos e sabia que somos ambíguos. E, apesar de nós mesmos, ele amou-nos e comprou-nos para si mesmo, a fim de transformar-nos à sua própria imagem.
Jesus é o caminho que faz-nos sair da crise de fé. Ele convida-nos a aproximarmo-nos do seu trono. Essa aproximação acontece a partir de qualquer situação quando os joelhos se dobram e os lábios se abrem. Quando decidimos por tal aproximação, o medo que outrora habitava-nos dá lugar à confiança. Somos tomados pela certeza de que tudo já está consumado! O nosso Sumo Sacerdote já fez a purificação última e definitiva dos nossos pecados. À medida que aproximamo-nos do seu trono, somos recebidos pela misericórdia e pela graça. Ele não retribui-nos conforme merecemos. Muito pelo contrário! Ele dá-nos exatamente o que não merecemos. Por fim, tendo chegado diante do trono, recebemos também toda a ajuda de que necessitamos para viver a vida. Pecados... acontecerão; fraquezas... serão experimentadas; ambiguidades... ainda farão parte da caminhada. Todavia, o Sumo sacerdote que assenta-se no trono estará no mesmo lugar, cheio de misericórdia e de graça, esperando sempre pela nossa chegada.
Está em crise de fé? Confie tão somente em Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Ele é o caminho para você sair dessa terrível situação.
Luiz Felipe Xavier.
Esse texto foi publicado no informativo da Igreja Batista da Redenção.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Marcas e desafios...

O Foro Teologico Jueves foi considerado por muitos participantes como o ponto mais alto do CLADE V. Se não foi o mais alto, certamente foi o mais propositivo. O espanhol Juan José Tamayo, teólogo da libertação, foi convidado para analisar a FTL e a Teologia da Missão Integral. O que segue é um resumo de sua palestra.
Tamayo deu início à sua fala apresentado o que considera ser as três virtudes teologais
do ecumenismo ou da unidade cristã: a fé em Jesus de Nazaré, a esperança em seu Reino, e o amor a Deus e ao próximo. Tendo dito isso, dividiu a sua palestra em três partes.
Na primeira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Como chegamos até aqui? Em uma frase, disse que a caminhada até aqui foi marcada pelo descobrimento de comunidades vivas, ativas celebrantes e festivas.
Na segunda parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são as marcas identificadoras da FTL? Para ele, a FTL possui, pelo menos, nove marcas identificadoras. A primeira marca é a missão, entendida como o anúncio do Reino de Deus e sua justiça. A segunda marca é o compromisso como uma práxis que evidencie esse Reino. A terceira marca é a reflexão, o pensar a fé. Nesse pensar, três equívocos são evitados: o intelectualismo, que converte o cristianismo num projeto para sábios; o ativismo, que não deixa tempo para o exercício do pensamento; e o irracionalismo, que considera absurdo crer. A quarta marca é a plataforma de diálogo, entre distintos e distantes setores da igreja na América Latina. Para tal é necessário um deslocamento do pensamento único para o pensamento plural e das guerras religiosas para os encontros religiosos. As diferenças que aparecem não são motivos de enfrentamento e distanciamento, mas ocasiões de diálogos. A quinta marca é a hermenêutica bíblica contextual. Essa hermenêutica acontece num círculo: da Palavra de Deus à sociedade; da sociedade à Palavra de Deus. Ou, como dizia Carlos Mesters, num "Triângulo Hermenêutico", de pretexto, texto e contexto. A sexta marca é a herança. Tal herança conforma-se à tradição, mas olha para o futuro, motivada pela utopia ou esperança. A sétima marca é a Missão Integral da Igreja, realizada pelo discipulado integral. Integral é entendido como antônimo de parcial e sinônimo de integridade, tanto da mensagem quanto da vida. A oitava marca é o Espírito Santo, aquele que é o protagonista da missão da Igreja. A nona e última marca é a contextualização, referente à América Latina.
Na terceira parte, Tamayo respondeu à pergunta: Quais são os desafios para a Missão Integral no futuro? De maneira didática e dialética (sempre do negativo ao positivo), ele propôs dez desafios à igreja latino-americana. O primeiro desafio é responder à pobreza estrutural e aos movimentos de luta contra a pobreza. Desse desafio surgirá uma igreja solidária, uma igreja da libertação integral, uma igreja dos pobres. O segundo desafio é responder à globalização neoliberal excludente e à alter globlalização inclusiva. A alter globalização é um movimento que opõe-se aos efeitos negativos da globalização econômica. Desse desafio surge uma igreja contra hegemônica, um igreja contra imperial. O terceiro desafio é responder ao patriarcado e ao feminismo, como alternativa. Segundo ele, a igreja ainda é patriarcal na organização, na doutrina, na moral e na linguagem. Logo, o feminismo aparece como uma filosofia de igualdade e um movimento social de libertação das mulheres. Desse desafio surgirá uma igreja comunitária e fraterna, onde a mulher também seja sujeito. O quarto desafio é responder à destruição do meio ambiente e à consciência ecológica. Desse desafio surgirá uma igreja que não seja uma organização antropocêntrica, mas uma comunidade ecológica, comunidade que defenda os direitos da natureza. O quinto desafio é responder ao neocolonialismo e à descolonização das igrejas. Desse desafio surgirá uma igreja autóctone, uma igreja latino-americana. O sexto desafio é responder à uniformidade cultural e à interculturalidade. Desse desafio surgirá uma igreja universal, uma igreja intercultural. O sétimo desafio é responder ao fundamentalismo, instalado nas cúpulas, e ao diálogo inter-religioso e social. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo ecumênico, inter-religioso e social. O oitavo desafio é responder ao dogmatismo e à afirmação da ética. Conforme ele pensa, o dogma não pode sobrepor-se ao Evangelho e as verdades eternas não podem sobrepor-se à ética. Desse desafio surgirá uma igreja que recupere os símbolos, porque, como diz Paul Ricoeur, o símbolo dá de pensar, uma igreja que recupere a ética como teologia primeira, assim como Emmanuel Lévinas afirmava a ética como filosofia primeira. O nono desafio é responder à uniformidade e fragmentação, e ao pluralismo eclesiástico. Desse desafio surgirá um igreja plural, sem fragmentação, sem sem exclusão, sem excomunhão, sem inquisidores e sem hereges. O décimo e último desafio é responder às investigações científicas e à condenação à ciência. Desse desafio surgirá uma igreja em diálogo com a ciência e uma igreja que critique os abusos da ciência.
Tamayo finalizou sua fala destacando um palavra que considera mágica: utopia. Para ele, o Reino de Deus é a utopia de Jesus. Assim, ele deve estar em nosso horizonte como estava no de Cristo. É Reino de Deus como lugar de encontro entre transcendência e história; é Reino de Deus em defesa da vida; é Reino de Deus marcado por tensão entre presente e futuro, já e ainda não; é Reino de Deus como libertação dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados.
Da palestra de Tamayo, destaco dois aspectos: um positivo e outro negativo. O positivo refere-se ao seu caráter propositivo da análise. O negativo refere-se à ênfase excessiva no chamado Diálogo Inter-Religioso.
Por fim, agradeço à provocação de Harold Segura, a quem dedico a ele esse breve resumo. Obrigado, mano!
Luiz Felipe Xavier.