terça-feira, 2 de outubro de 2018

TRANSFORMANDO GANÂNCIA EM GENEROSIDADE

Jesus é um mestre que conta muitas parábolas. Em Lucas 12:13-21, ele conta a Parábola do Rico Insensato. Nessa parábola, Jesus nos ensina que precisamos ficar de sobreaviso contra todo tipo de ganância, pois a nossa vida não consiste na abundância dos nossos bens. Logo, fica evidente que Deus deseja que desenvolvamos uma relação saudável com os bens materiais. Para tal, precisamos considerar três advertências.

A ganância é uma enfermidade espiritual

Jesus está cercado por uma multidão. No meio dessa multidão, alguém diz: “Mestre, dize a meu irmão que divida a herança comigo”. Espera-se de um mestre tanto o conhecimento da lei quanto os pareceres legais. E Jesus responde: “Homem, quem me designou juiz ou árbitro [melhor seria “partidor”] entre vocês?”. Semelhantemente, espera-se do juiz uma sentença e do partidor a execução dessa sentença. Assim, voltando-se para os demais presentes, Jesus declara: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens”. Este é o princípio espiritual que será ilustrado pela Parábola do Rico Insensato. Todos sabemos que a ganância é o desejo ávido e insaciável de ter sempre mais. Assim sendo, a advertência de Jesus é exatamente contra esse desejo. Isso porque a ganância é uma enfermidade espiritual terrível. Naquele contexto, a expressão “Tomem cuidado!” era utilizada para os cuidados médicos. Por exemplo: “Tomem cuidado com os leprosos!”. Aqui surge uma importante pergunta: por que é necessário afastar-se ou proteger-se da ganância? A resposta de Jesus é muito clara: porque a vida que realmente importa não consiste na quantidade de bens que se acumula.
Uma vez que estamos em uma zona de epidemia de ganância, precisamos tomar muito cuidado. A mensagem do nosso entorno é: trabalhe mais, ganhe mais, acumule mais, consuma mais e finalmente você será reconhecido como alguém bem sucedido. O problema é que se vivermos nesta pegada, jamais nos realizaremos e jamais nos pacificaremos. Isso porque de duas uma: ou estaremos inquietos para adquirir coisas novas ou estaremos enjoados das coisas que já adquirimos. Mais cedo ou mais tarde, precisaremos decidir a quem daremos razão: à mensagem do nosso entorno, que é ilusão e morte, ou à mensagem de Jesus, que é realidade e vida.

A acumulação para si mesmo é o sinal dessa enfermidade

Tendo anunciado o princípio espiritual, agora Jesus o ilustra. Para tal, ele lança mão da Parábola do Rico Insensato. Ele diz: “A terra de certo homem rico produziu muito. Ele pensou consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’. “Então disse: ‘Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. “Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’”. Consideremos a breve estória que a parábola descreve. A terra produz por si mesma. O dono dessa terra é um homem rico. Ele já tem e ainda terá mais do que o suficiente para viver. A perspectiva de ter ainda mais lhe traz um problema: o que fazer com o excedente? As duas alternativas são: acumular ou partilhar. O homem rico faz opção de acumular. Então, a acumulação para si mesmo é o sinal da enfermidade. Ele quer proteger e desfrutar os seus bens, quer segurança e bem estar. Mas Deus declara que a opção de acumular é uma expressão de loucura. É loucura porque o homem rico não tem domínio sobre a própria vida. Embora em nossas traduções não seja evidente, no texto original, Lucas brinca com as palavras de Jesus. Sobre isso, Kenneth Bailey comenta: “(...) aqui este homem rico, que acha que a sua euphoreo (abundância de bens) produzirá euphron (a vida boa), na realidade está aphron (sem mente, espírito e emoções). A sua fórmula para a boa vida é estupidez crassa.”.
Quando acumulamos riquezas, estamos em busca de segurança e de bem estar. Porém, Jesus nos chama de loucos. É loucura confiarmos mais em nossos bens materiais do que em nosso Deus. É loucura pensarmos que, porque temos muitos recursos financeiros, podemos controlar o nosso futuro. É como nos alerta o Eclesiastes: “Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido.” (Ec. 5:10).

A partilha com o próximo é o tratamento dessa enfermidade

Depois de anunciar e ilustrar o princípio espiritual, Jesus conclui com as seguintes palavras: “Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus”. Aqui, ele aprofunda o princípio espiritual. Guardar para si riquezas já sabemos o que é. Agora, o que é ser rico para com Deus? Jesus não explica. Só descobrimos o que é ser rico para com Deus quando discernimos o contraste presente no texto. Ou seja, ser rico para com Deus é o oposto de acumular para si riquezas. Portanto, ser rico para com Deus é partilhar o que se tem com o seu próximo. A partilha com o próximo é o tratamento da enfermidade. Paradoxalmente, quem partilha é rico.
Ouvindo atentamente essas palavras de Jesus, descobrimos que a ansiedade e a ganância são dois lados da mesma moeda. Por ser alguém que deseja controlar o futuro, o ansioso dá lugar à ganância e acumula para si riquezas. Além disso, descobrimos que a fé e a generosidade também são dois lados de outra moeda. Por ser alguém que descansa no cuidado amoroso de Deus, o crente dá lugar à generosidade e partilha o que tem com o seu próximo. Por fim, precisamos responder: estamos guardando riquezas ou sendo ricos para com Deus?

Que Deus nos ajude a ser cada vez mais ricos para com ele!

Luiz Felipe Xavier.

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