sexta-feira, 26 de maio de 2017

Há esperança!

Jesus decide ir para Jerusalém. Mas antes de rumar à capital, ouve a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo”. Ouvindo essa confissão, Jesus faz a sua primeira predição da cruz. O Filho do homem vai sofrer, vai ser rejeitado, vai ser morto e vai ressuscitar. Logo, quem quiser ser seu discípulo precisa estar consciente do preço embutido em tal decisão. O discípulo deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. É exatamente neste contexto que acontece a chamada transfiguração. A visão de Jesus transfigurado no presente é uma prévia da visão de Jesus glorificado no futuro. Assim, há esperança! A transfiguração de Jesus é fonte de esperança para todos aqueles que são seus discípulos. Em Marcos 9:1-13, essa esperança possui três fundamentos.
O primeiro fundamento da esperança é a glória de Jesus. Seis dias depois da confissão em Cesaréia de Filipe, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, e os leva a um alto monte, onde ficam a sós. Por que Jesus escolhe estes três e não outros? Provavelmente porque Pedro, Tiago e João são os que têm mais dificuldade de discernir quem é Jesus e qual é a sua missão. Ali, no alto do monte, Jesus é transfigurado diante deles. Suas roupas ficam brancas. Na verdade, ficam resplandecentes. Elias e Moisés aparecem diante deles. Elias, representando os profetas, e Moisés, representando a lei. Ambos representam a antiga aliança. Além disso, a presença de Elias e de Moisés tem um significado escatológico. Ambos eram esperados antes do fim.
A glória de Jesus na transfiguração aponta-nos a plenitude futura do Reino de Deus. Apesar do caos que experimentamos no mundo, um dia tudo será segundo a vontade de Deus. Imagine um tempo quando o amor vencerá o ódio; quando o bem vencerá o mal; quando a justiça vencerá a injustiça; quando a paz vencerá a guerra; quando a alegria vencerá a tristeza; quando tudo for exatamente como o nosso Deus deseja. Esta convicção é capaz de encher o nosso coração de esperança. E enquanto o Reino de Deus ainda não é pleno, nós fazemos o que está ao nosso alcance para expandi-lo. Nós sinalizamos amor, bem, justiça, paz, alegria, etc..
O segundo fundamento da esperança é a palavra de Jesus. Enquanto acontece a transfiguração, Pedro diz a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui.”. Era tão bom estarem ali que Pedro sugere a construção de três tendas: uma para Jesus, uma para Moisés e outra para Elias. Pedro faz essa sugestão porque ele não sabia o que dizer, pois eles estavam apavorados. Comentando este texto, José Antônio Pagola afirma: “Pedro não entendeu nada. Por um lado, coloca Jesus no mesmo plano e no mesmo nível de Elias e Moisés: a cada um sua tenda. Por outro lado, continua resistindo à dureza do caminho de Jesus; quer retê-lo na glória do [monte] Tabor, longe da paixão e da cruz do [monte] Calvário.”. A seguir, uma nuvem os envolve e o Pai vem corrigir Pedro. Da nuvem sai uma voz: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!”. Aqui se encontra o clímax da narrativa. Se, antes, Elias e Moisés davam testemunho de Jesus, agora, o próprio Pai o faz. Pedro, Tiago e João devem ouvir as palavras de Jesus sobre quem ele era e sobre qual era a sua missão. Além disso, eles devem ouvir as palavras sobre negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. De repente, quando Pedro, Tiago e João olham ao redor não vêem mais ninguém, a não ser Jesus.
O testemunho do Pai sobre quem é Jesus impõe-nos a obediência presente à sua palavra. Sobre isso, José Antônio Pagola declara: “Para ser cristão, o mais decisivo não é em que coisas uma pessoa crê, mas que relação ela vive com Jesus.”. A nossa relação com Jesus é diretamente relacionada à nossa submissão a ele. Assim sendo, um bom exercício é o de reler os Evangelhos destacando as palavras de Jesus que precisamos ouvir e obedecer.
O terceiro fundamento da esperança é a ressurreição de Jesus. Na descida do monte, Jesus ordena a Pedro, Tiago e João que não contem nada a ninguém. Ou seja, a experiência que tiveram deve ser guardada em segredo. Esse segredo tem prazo: eles não podem contar nada a ninguém até que Jesus, o Filho do homem, ressuscite dos mortos. Entre si, Pedro, Tiago e João discutem o significado da ressurreição. Tendo discutido, eles perguntam a Jesus: “Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?”. Inacreditavelmente, eles ainda parecem considerar o ensino dos mestres da lei ao invés de considerar o ensino de Jesus. Pacientemente, Jesus responde que Elias deve vir primeiro e que ele já veio. Isso porque João Batista foi um profeta semelhante a Elias; ambos chamaram o povo de Deus ao arrependimento. João Batista veio e fizeram com ele o que quiseram. Assim como Elias foi perseguido por Acabe e Jezabel, João Batista foi perseguido por Herodes e Herodias. E assim como João Batista foi perseguido e morto, Jesus também será perseguido e morto. Jesus morrerá e ressuscitará.
A realidade passada da ressurreição de Jesus encoraja-nos a enfrentar tempos difíceis. Jesus não nos prometeu tempos fáceis. A única promessa que temos é a de que os tempos difíceis não durarão para sempre. Isso porque Jesus ressuscitou dos mortos. Na ressurreição de Jesus, a vida venceu a morte. Isto é, a morte morreu. Então, a morte e as realidades de morte não têm mais a palavra final. A palavra final quem tem é Jesus, aquele que venceu a morte. Portanto, há esperança!
Por fim, este texto nos convida a três olhares: no passado, contemplamos a ressurreição de Jesus; no presente, contemplamos a palavra de Jesus; no futuro, contemplamos a glória de Jesus. Nesses três olhares estão os fundamentos da nossa esperança. Que assim seja!
Luiz Felipe Xavier.

Dedico este texto ao meu querido tio George César Almeida Xavier. Ele nos deixou cedo demais.

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