Jesus foi alguém muito questionado
pelos líderes religiosos do seu tempo. Ao longo do Evangelho de Marcos, isso acontece
várias vezes. Jesus perdoa pecados e o questionamento é: ele tem poder para
isso? Jesus come com publicanos e pecadores, e o questionamento é: ele toma as
refeições com qualquer um? Jesus desencoraja temporariamente o jejum e o
questionamento é: os seus discípulos não jejuam? Jesus aparentemente quebra o
sábado e o questionamento é: os seus discípulos e ele fazem o que é proibido no
sétimo dia? Jesus expulsa demônios e o questionamento é: ele está possuído por
Belzebu? Em Marcos 7:1-23, os discípulos de Jesus comem sem lavar as mãos e o
questionamento é: eles são impuros por isso? Tomando como base este texto, podemos
afirmar que os discípulos de Jesus são
aqueles que rompem com uma religiosidade morta e assumem uma espiritualidade
viva. Eles são aqueles que passam por três profundas transformações.
Na
primeira transformação, os discípulos passam da tradição religiosa ao exemplo
de Cristo. Marcos
começa a sua narrativa descrevendo um flagrante: os fariseus e os mestres da
lei aproximam-se de Jesus e observam que seus discípulos comem sem lavar as
mãos. Os mestres da lei ou escribas são aqueles que interpretam e aplicam a lei
escrita de Moisés. Eles têm como referência a tradição oral dos líderes
religiosos ou anciãos de Israel. Os fariseus, por sua vez, são aqueles que vivem
de acordo com o ensino desses mestres da lei. Diz o texto que os fariseus e os
mestres da lei flagram os discípulos de Jesus comendo sem lavar as mãos. Como
Marcos está escrevendo a leitores gentios, ele explica-lhes a tradição oral dos
líderes religiosos de Israel: antes de comer, é necessário lavar as mãos
cerimonialmente. Além disso, é necessário se lavar ao chegar da rua, e lavar
copos, jarros e vasilhas de metal. Logo, esses rituais de purificação refletem
a convicção de que a fonte do mal é externa, ou seja, as impurezas vêm do
contato com pessoas ou coisas impuras.
Tendo explicado a tradição oral dos
líderes religiosos de Israel, Marcos apresenta a pergunta dos fariseus e dos
mestres da lei a Jesus: “Por que os seus discípulos não vivem de acordo com a
tradição dos líderes religiosos, em vez de comerem o alimento com as mãos
‘impuras’?”. Antes de considerarmos a resposta a essa pergunta, observemos que
a espiritualidade viva baseia-se no exemplo de Cristo, não na tradição
religiosa. Assim, faremos muito bem a nós mesmos e às nossas comunidades se
relermos os Evangelhos observando como Cristo viveu a sua vida. Ao que parece,
muitos de nós leem estas narrativas procurando saber somente como Cristo
garantiu-nos a salvação e poucos de nós as leem procurando saber realmente como
Cristo viveu a sua vida. Faremos bem se ampliarmos nossa leitura.
Na
segunda transformação, os discípulos passam das regras dos homens aos
mandamentos de Deus. Aqui,
Jesus responde a pergunta dos fariseus e dos mestres da lei. Ele afirma: “Bem
profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me
honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram;
seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’. Vocês
negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições de homens”. Que
resposta dura! Primeiro, Jesus chama os fariseus e os mestres de lei de
hipócritas. Um hipócrita é um ator, alguém que desempenha um papel. Ele não é,
de fato, quem aparenta ser. Depois, Jesus responde aos fariseus e aos mestres
da lei com as Escrituras. Citando Isaías 29:13, ele faz uma dupla denúncia. A
adoração dos fariseus e dos mestres da lei é vã. Eles honram a Deus com os
lábios, mas seu coração está longe dele. E os ensinos dos fariseus e dos
mestres da lei são apenas regras ensinadas por homens. Eles negligenciam os mandamentos
de Deus e se apegam às tradições humanas.
Tendo respondido a pergunta dos
fariseus e dos mestres da lei, Jesus dá um exemplo. Nesse exemplo, os
mandamentos de Deus são: “Honra teu pai e tua mãe” – uma ordem; e “Quem
amaldiçoar seu pai e sua mãe será executado” – uma sanção. Como os fariseus e
os mestres da lei negligenciam esses mandamentos de Deus e se apegam às
tradições humanas? Praticando o Corbã. Aqui, Corbã é dedicar ao Senhor uma
oferta que deveria ser utilizada para suprir as necessidades dos pais e, tendo
feito isso, usar o valor dessa oferta consigo mesmo, sem sofrer a devida sanção
por tal atitude perversa. Assim sendo, os fariseus e os mestres da lei
negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições humanas. Em
contrapartida, a espiritualidade viva orienta-se pelos mandamentos de Deus. Jesus
mesmo resumiu todos os mandamentos em apenas dois: ame a Deus e ame ao próximo.
O nosso amor a Deus é expresso em obediência a ele e o nosso amor ao próximo é
expresso em serviço a ele. Amemos!
Na
terceira transformação, os discípulos de Jesus passam da limpeza exterior à
purificação interior.
Dirigindo-se a multidão, Jesus diz: “Ouçam-me todos e entendam isso: Não há
nada fora do homem que, nele entrando, possa torná-lo ‘impuro’. Ao contrário, o
que sai do homem é que o trona ‘impuro’. Se alguém tem ouvidos para ouvir,
ouça!”. Na rua, ele conta esta parábola à multidão; em casa, ele a explica aos
discípulos. Dessa explicação fica evidente que nada que entre no homem pode
torná-lo ‘impuro’. Isso porque o que entra vai para o estômago, não para o
coração, sendo depois eliminado. O que sai do homem é que o torna ‘impuro’,
pois do interior do homem procede toda sorte de males.
Por fim, Jesus destaca alguns desses
males do coração. Entre eles estão maus pensamentos ou imaginações más; imoralidades
sexuais ou relações sexuais ilícitas; roubos ou subtrações de algo alheio; homicídios
ou assassinatos; adultérios ou relacionamentos extraconjugais; cobiças ou desejos
ávidos de ter cada vez mais; maldades ou planos perversos que visam prejudicar
alguém; engano ou fraude em benefício próprio; devassidão ou libertinagem; inveja
ou vontade de ser ou ter o que o outro é ou tem; calúnia ou difamação; arrogância
ou orgulho; e insensatez ou tolice. Jesus afirma que todos esses males vêm de
dentro e tornam o homem ‘impuro’. Portanto, somente a espiritualidade viva
possibilita a nossa purificação interior. Essa purificação tem duas dimensões:
uma preventiva e outra terapêutica. Preventivamente, nos purificamos pelo
constante exercício de guardar o nosso coração. Guardamos o nosso coração
quando guardamos as suas portas: nossos olhos e nossos ouvidos. Terapeuticamente,
nos purificamos pelo constante exercício de nos lavar no sangue de Jesus. Quando
pecamos, é para a cruz que corremos. Ali há toda a provisão de purificação de que
necessitamos.
Que Deus nos ajude a desenvolver uma
espiritualidade viva, uma espiritualidade que baseia-se no exemplo de Cristo, que
orienta-se pelos mandamentos de Deus e que possibilita a uma real purificação
interior!
Luiz Felipe Xavier.
Esclarecedor texto sobre o Ministério de Jesus. Impossível se dizer evangélico sem conhecer quem foi e a que veio, nosso primeiro e único Pastor.
ResponderExcluirMuito bom!!! Vou compartilhar com meu pequeno grupo, onde estamos meditando sobre pureza! Deus te abençoe Luiz Felipe!
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