A Parábola dos Lavradores Maus está
presente em Mateus, Marcos e Lucas. Embora os relatos dos três evangelistas
sejam diferentes, sua mensagem é única: uma vinha é arrendada; o dono envia
seus servos e estes são maltratados; o dono envia seu filho; este é assassinado;
a vinha é dada a outros. Nos três Evangelhos, ela se encontra no mesmo
contexto, a saber, na última semana de Jesus em Jerusalém. Nessa última semana,
os conflitos com os líderes religiosos de Israel se intensificam e culminam na
prisão e morte de Jesus. De todas as parábolas que ele contou, essa é a única que
possui um conteúdo explicitamente cristológico. Nela, enquanto conta a sua
própria história, Jesus nos revela três atributos do seu Pai e nosso Pai.
Paciência
Certo homem planta uma vinha, a arrenda
e se ausenta. É possível que Jesus tenha em mente a Canção da Vinha de Isaías
5:1-7. Nessa canção, Deus planta uma vinha e espera que ela dê uvas boas. Mas,
contrariando todas as suas expectativas, ela só dá uvas azedas. De acordo com o
profeta Isaías, essa vinha é o povo de Deus. As uvas boas que Deus espera são justiça
e retidão. As uvas azedas que o povo dá são violência e sofrimento. Ao que
parece, entre a Canção da Vinha e a Parábola dos Lavradores Maus há dois
elementos comuns e dois novos. Os elementos comuns são Deus como o proprietário
da vinha e esta como o povo de Deus. Os elementos novos são os arrendatários, que
correspondem aos líderes de Israel, e o filho amado, que corresponde a Jesus.
Na época da colheita, o proprietário
envia o primeiro servo para receber parte do fruto. Os arrendatários o espancam
e o mandam embora sem nada. O proprietário envia o segundo servo. Os
arrendatários o espancam, o humilham e o mandam embora sem nada. O proprietário
envia o terceiro servo. Os arrendatários o ferem e o expulsam da vinha. Este tratamento
violento dos arrendatários em relação aos três servos do proprietário é
semelhante ao tratamento violento de Jerusalém em relação aos profetas e aos
enviados de Deus. Apesar de tudo, o proprietário continua paciente. Com isso, Jesus
deixa claro que o nosso Pai é muito paciente. Esta paciência é evidenciada na
sua persistência em relação a nós.
Amor
A parábola segue e o proprietário da vinha diz a si mesmo: “Que farei?
Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão”. Aqui, a expressão “filho
amado” merece destaque. No Evangelho de Lucas, essa expressão aparece três
vezes: no batismo de Jesus, na sua transfiguração e aqui. Logo, a expressão
“filho amado” parece ser uma clara referência a Jesus, o enviado do Pai ao
mundo. Vale ressaltar que este envio encontra-se no centro da parábola. Porém,
objetivando tomar posse da herança do filho, os arrendatários lançam-no fora da
vinha e matam-no. Nesta descrição estão implícitos dois importantes aspectos
relacionados à pessoa de Jesus. O primeiro é a encarnação. O Filho é enviado
pelo Pai ao mundo. O segundo é a expiação. O Filho será morto pelos pecados da
humanidade. Com isso, Jesus também deixa claro que o nosso Pai é muito amoroso.
Este amor é
evidenciado na sua misericórdia e na sua graça para conosco.
Zelo
A parábola
termina com uma pergunta e com uma resposta. A pergunta é: o que lhes fará
então o dono da vinha? No passado e no presente, ele tem agido com paciência e com
amor. A resposta é: virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros. No
futuro, ele agirá com juízo contra esses lavradores. Ao que parece, porque os
líderes de Israel não correspondem à expectativa de Deus em relação a eles, a
liderança do povo de Deus será retirada deles e dada a outros líderes. Nisso
consiste o juízo. Esses outros líderes são aqueles que se submetem à autoridade
de Jesus e dão frutos ao seu Pai. Em
reação, o povo diz: “Que isso nunca aconteça!”. Olhando fixamente para eles,
Jesus lança mão do Salmo 118:22 para aplicar a mensagem da parábola. Ele
afirma: “Então, qual é o significado do que está
escrito? ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular’.
Todo o que cair sobre esta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair
será reduzido a pó”.
Por um lado, partindo dessa aplicação,
fica evidente que a atitude em relação a Jesus no presente determinará a
situação dos líderes religiosos no futuro. Ou seja, uma vez que estes o
rejeitam, sofrerão o juízo. Por outro lado, também fica claro que o povo deve se
submeter a Jesus e dar frutos ao seu Pai. Aqui está o princípio espiritual da
parábola! A atitude que o Pai espera do
seu povo é a submissão ao seu Filho. O texto termina com esses líderes
religiosos – mestres da lei e chefes dos sacerdotes – vestindo a carapuça. Eles
percebem que Jesus está falando contra eles e, por isso, procuram encontrar um
meio de prendê-lo. Todavia, ainda não podem fazer isso porque temem ao povo. Quando
puderem, estarão apenas confirmando as palavras dessa parábola. Com isso, Jesus
ainda deixa claro que o nosso Pai é muito zeloso. Este zelo é evidenciado pela
liderança espiritual à qual ele delega o nosso cuidado.
Por fim, uma pergunta: por que é
importante conhecer os atributos do nosso Pai? Porque a nossa concepção sobre ele
determinará a maneira como nos relacionaremos com ele. O nosso Pai é paciente,
amoroso e zeloso. Que assim possamos concebê-lo e que assim nos relacionemos
com ele!
Maravilhoso o texto, tive até uma iluminação a respeito da expressão Filho.
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