No Evangelho de Lucas, Jesus conta
quatro parábolas enquanto está na Galiléia. Dessas, a única tipicamente lucana
é a Parábola dos Dois Devedores (Lc. 7:36-50). Nessa parábola, Jesus nos ensina
que aquele que é muito perdoado muito ama. Ele nos ensina também que o nosso
amor a Deus é proporcional à nossa consciência do perdão que recebemos dele. Logo,
observemos três efeitos desta experiência com o perdão de Deus.
Quem
experimentou o perdão de Deus se humilha diante de Deus
Jesus é convidado para jantar na casa
de um fariseu. Num dia de banquete, a casa fica aberta e os convidados ocupam a
sala, onde há uma mesa longa e baixa. Ali, eles se reclinam sobre o cotovelo e mantêm
os pés afastados. Geralmente, os servos e os curiosos ficam atrás do dono da
casa e dos seus convidados. Enquanto o jantar acontece, uma mulher ‘pecadora’,
provavelmente uma prostituta, fica sabendo que Jesus está na casa do fariseu e
vai até lá. Ela traz um perfume e se coloca atrás de Jesus, no lugar dos servos
e dos curiosos. Chorando, a mulher molha os pés dele com suas lágrimas, em uma
atitude é de total humilhação. Como não tem uma toalha, ela solta seus cabelos
e com eles enxuga os pés de Jesus. Soltar os cabelos em público é um ato
vergonhoso e sedutor. Além disso, a mulher beija os pés dele, em uma expressão
de honra, gratidão e submissão. Como se não bastasse, ela unge os pés de Jesus com
um perfume caro que, possivelmente, usava em seus programas. De agora em
diante, ela não precisará mais desse perfume. Escandalizado com o que vê, o
fariseu diz a si mesmo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está
tocando e que tipo de mulher ela é: uma pecadora”. Se a atitude da mulher
expressa humildade e gratidão, a atitude do fariseu expressa orgulho e juízo. Com
isso, aprendemos que a primeira evidência
de que experimentamos o perdão de Deus é a nossa humildade diante dele e a cessação
do juízo em relação ao próximo.
Quem
experimentou o perdão de Deus ama a Deus
É exatamente neste momento da
narrativa que Jesus conta a Parábola dos Dois Devedores a Simão: “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia
quinhentos denários [salário de pouco mais de um ano de trabalho] e o outro,
cinquenta [salário de cerca de dois meses de trabalho]. Nenhum dos dois tinha
com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?”.
Simão responde: “Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. Ouvindo
a resposta de Simão, Jesus afirma: “Você julgou bem”. Assim, o princípio
espiritual dessa parábola é claro: o nosso amor a Deus é proporcional à nossa
consciência do perdão que recebemos dele. O
fariseu Simão, por considerar que foi pouco perdoado, ama pouco. Já a
mulher pecadora, por considerar que foi muito perdoada, ama muito. Além disso, da parábola infere-se que todos nós
somos devedores a Deus. Alguns têm a consciência de que devem mais e outros a
consciência de que devem menos. O problema é que nenhum de nós pode pagar o que
deve a Deus. Mas, todos nós podemos receber o perdão da parte dele. Este é o
Evangelho! Por sua infinita misericórdia, o Deus Santo perdoa livremente os pecadores
culpados. Agora, a pergunta é: como respondemos a esse perdão? Com amor. Amor a
Deus, em obediência, e amor ao próximo, em serviço. Com isso, aprendemos também
que a segunda evidência de que
experimentamos o perdão de Deus é o nosso amor a ele, expresso no amor ao
próximo.
Quem
experimentou o perdão de Deus desfruta da paz de Deus
Tendo contado a Parábola dos Dois
Devedores, Jesus vira-se para a mulher e pergunta a Simão: “Vê esta mulher?”. Jesus compara as atitudes de Simão com
as atitudes da mulher. Ele o faz para demonstrar quem foi mais perdoado por
Deus e quem ama mais a Deus. Esta comparação baseia-se nos costumes
relacionados à hospitalidade. Simão deveria ter dado água a Jesus para lavar os
pés e não o deu. Em contrapartida, a mulher molhou os pés de Jesus com suas
lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Simão deveria ter saudado a Jesus com
um beijo na face e não o saudou. Em contrapartida, a mulher não parou de beijar
os pés de Jesus. Simão deveria ter ungido a cabeça de Jesus com óleo e não a
ungiu. Em contrapartida, a mulher derramou perfume nos pés de Jesus. Ou seja, a
mulher fez tudo o que Simão deveria ter feito e não fez. Assim sendo, Jesus
declara: “os muitos pecados dela lhe foram perdoados; pois ela amou muito. Mas
aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama”. Aqui, a melhor tradução seria: “os
muitos pecados dela lhe foram perdoados; portanto
ela amou muito”. Isso significa que o amor é consequência do perdão, não a sua
causa. Por fim, Jesus faz duas afirmações libertadoras à mulher. A primeira
afirmação é: “Seus pecados estão perdoados”. Quando ele diz isso, os outros
convidados começam a perguntar: “Quem é este que até perdoa pecados?”. Jesus é
um profeta que conhece o coração de Simão e que anuncia o perdão de Deus à
mulher. A segunda afirmação é: “Sua fé a salvou; vá em paz”. Jesus deixa
claro que a salvação é pela graça, recebida mediante a fé somente. Como
resultado, aquele que foi salvo desfruta da paz de Deus. Com isso, ainda
aprendemos que a terceira evidência de
que experimentamos o perdão de Deus é o nosso desfrutar da sua paz.
Que Deus, por sua graça, nos dê a
consciência de que fomos muito perdoados para que muito amemos!
Luiz Felipe Xavier.
Perfeito!!!
ResponderExcluirEdificante!
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