Jesus está em Jerusalém, na última
semana do seu ministério terreno. Ali, ele pronuncia uma sentença contra o
judaísmo do templo e reforça essa sentença. Neste reforço, Jesus conta a
Parábola dos Lavradores aos chefes dos sacerdotes, aos mestres da lei e aos
líderes religiosos. Depois disso, ele responde ao questionamento dos fariseus e
dos herodianos sobre o pagamento de imposto a César, ao questionamento dos
saduceus sobre a realidade da ressurreição e ao questionamento de um mestre da
lei sobre os mandamentos. Acima de tudo, Jesus
deixa claro que os seus discípulos são aqueles que obedecem aos seus
mandamentos.
O
mandamento mais importante é o amor a Deus (Mc. 12:28-30). Marcos diz que um mestre da lei se
aproxima de Jesus e ouve o que ele estava discutindo com os saduceus sobre a
realidade da ressurreição. Esse mestre da lei gosta da resposta de Jesus aos
saduceus e se sente à vontade para lhe perguntar sobre qual é o mandamento mais
importante. Na lei de Moisés há 613 mandamentos, sendo 365 ordens e 248
proibições. Logo, debater a importância relativa desses mandamentos é algo
comum entre os mestres da lei. Eles querem descobrir o mais importante, o que
explica os demais. Jesus responde à pergunta citando Deuteronômio 6:4-5, o shema: “Ouve, ó Israel, o Senhor, o
nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu
coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas
forças.”. Estes versos são recitados por todos os judeus no início e no fim do
dia. Neles, observamos alguns detalhes interessantes. Primeiro, o povo de Deus
é o povo da escuta. O texto afirma: “Ouve, ó Israel”. Segundo, a escuta
possibilita o relacionamento pessoal com Deus. Esse Deus pode ser chamado de
“nosso”. Terceiro, o único Deus com o qual o seu povo se relaciona pessoalmente
é a Trindade. Em Deuteronômio 6:4, fonte dessa citação de Jesus, a palavra “Deus”
é tradução de elohiym, um plural
majestático. Literalmente, essa tradução seria “Deuses”. Nela, a fé cristã vê
uma referência às pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Além disso, a
palavra “único” é tradução de echad,
“um conjunto”. Os hebreus têm duas palavras para dizer “um”: yachiyd, que é “um” para uma peça única
(p. ex.: um pêssego); e echad, que é
“um” para um conjunto único, distinto e só reconhecível como tal (p. ex.: um
cacho de uva – talo e uvas separadamente não são cacho). Assim, o Deus de
Israel é um só Deus, em três pessoas. Quarto, o povo de Deus ama a Deus com
todo o seu ser. O texto diz: “Ame o Senhor”. Este amor é de todo o coração, que
é o centro da vida, o centro das decisões e das ações. É amor de toda a alma, com
sentimentos, afeições e desejos. É amor de todo o entendimento, com mente,
intelecto e pensamentos. É amor de todas as forças, com todo vigor. Assim sendo,
Jesus deixa claro que o amor a Deus é o mandamento mais importante.
Diante de tudo isso, como amamos a
Deus? O nosso amor a Deus expressa-se,
especialmente, em obediência (Cf. Jo. 14:21). Nós amamos a Deus adorando-lhe
exclusivamente. Isso significa que os ídolos devem ser identificados e
abandonados. Nós amamos a Deus buscando-lhe integralmente. Isso porque a sede e
a fome espirituais são marcas de alguém que nasceu de novo, que foi regenerado.
Dentre outras coisas, essa busca por Deus nos exigirá algo muito precioso: o
nosso tempo.
O
segundo mandamento mais importante é o amor ao próximo (Mc. 12:31-34). Tendo respondido a pergunta do
mestre da lei sobre o mandamento mais importante, Jesus, citando agora Levítico
19:18, acrescenta o segundo mais importante: “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
Esse “como a si mesmo” pressupõe que o amor próprio seja algo natural. E Jesus continua,
afirmando: “Não existe mandamento maior do que estes”. Aqui temos um detalhe importante:
A palavra “mandamento” está no singular. Isso significa que o amor a Deus e o amor ao próximo são um só
e mesmo mandamento. É exatamente isso que o apóstolo João diz: “Ele nos deu
este mandamento [singular]: Quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1 Jo.
4:21). Jesus deixa claro que o amor ao próximo é o segundo mandamento mais
importante. Consequentemente, o amor é a lei da vida para todos aqueles que são
discípulos de Jesus. Sobre isso, o apóstolo João também afirma: “Um novo
mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem
amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos,
se vocês se amarem uns aos outros.” (Jo. 13:34-35). Então, o amor é a identidade dos discípulos de Jesus. Evitando mencionar o
nome de Deus, o mestre da lei reconhece que Jesus está certo. Jesus, por sua
vez, declara: “Você não está longe do Reino de Deus.”. Apesar da sua
religiosidade, o mestre da lei ainda está fora. Mas está perto. Para entrar no
Reino de Deus, basta arrepender-se e crer (Cf. Mc. 1:14-15).
Frente a tudo isso, como amamos ao
nosso próximo? O nosso amor ao próximo manifesta-se,
principalmente, em serviço. Nós amamos o nosso próximo quando discernimos
suas necessidades e procuramos supri-las. Para tal, precisamos de ouvidos
atentos, de coração aberto e de mãos operantes. Nós amamos o nosso próximo com
atitudes concretas de bondade em sua direção. Sobre isso, Ricardo Barbosa
escreve: “É possível amar uns aos outros, até mesmo os inimigos, como Jesus
afirmou. Não se trata do que eu sinto por eles, mas do quanto eu estou disposto
a promover o bem deles. Foi isso que Deus fez por meio de Cristo, e é isso que
somos chamados a fazer.”.
Que
Deus, por sua graça, nos ajude a realizar o que é mais importante na vida! Que
ele nos ajude a amar!
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