Uma parábola é uma estória contada com
elementos da vida cotidiana para ilustrar um princípio espiritual. Em Marcos 4:33-34
está escrito: “Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra,
tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola.
Quando, porém, estava a sós com os seus discípulos, explicava-lhes tudo.”. De
acordo com Klyne Snodgrass, as parábolas constituem cerca de 35% dos ensinos de
Jesus. Logo, para interpretá-las é necessário considerar tanto o seu ambiente
vivencial quanto o seu contexto literário, buscando sempre o princípio espiritual
contido em cada uma delas.
Podemos dizer que, de modo geral, o
conteúdo das parábolas de Jesus é o Reino de Deus. Elas aprofundam três
importantes aspectos: a natureza do Reino
– o Reino de Deus é o governo de Deus sobre tudo e sobre todos; a vida no Reino – no Reino de Deus a
vida é marcada pela dinâmica da misericórdia; e a consumação do Reino – o Reino de Deus se consumará com a segunda
vinda de Cristo, quando haverá julgamento da humanidade, e justiça plena sobre
os novos céus e a nova terra.
Seguindo a estrutura dos próprios
Evangelhos Sinópticos, as parábolas são contadas na Galiléia, na viagem até
Jerusalém e em Jerusalém. Sob esta perspectiva, em Marcos, 50% das parábolas
estão na Galiléia e 50% em Jerusalém. Em Mateus, 54,5% estão na Galiléia, 4,5%
na viagem e 41% em Jerusalém. Em Lucas, 13,7% estão na Galiléia, 79,5% na
viagem e 6,8% em Jerusalém. Fato é que, a
maneira como Marcos, Lucas e Mateus organizam as parábolas em seus Evangelhos
tem como propósito apresentar-nos quem é o discípulo de Jesus, ou seja, quem é aquele
que segue pelo caminho do Reino de Deus. Assim, observemos três diferentes atitudes
desse discípulo.
Primeira
atitude: Para Marcos, o discípulo é aquele escuta a Palavra.
Um exemplo disso é a
“Parábola dos Tipos de Solo” ou “Parábola do Semeador”, em Marcos 4:3-9. A
palavra que introduz essa parábola é: “Ouçam!”. As palavras que concluem essa
parábola são: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!”. Essa
parábola descreve três incidentes de semeaduras malsucedidas e um incidente de
semeadura exitosa. Na primeira semeadura malsucedida, a semente cai à beira do
caminho. Seu desafio é o da centralidade da Palavra no coração do discípulo. Na
segunda semeadura malsucedida, a semente cai sobre pedras. Seu desafio é o da profundidade
da Palavra no coração do discípulo. Na terceira semeadura malsucedida, a
semente cai entre espinhos. Seu desafio é o da frutificação da Palavra no
coração do discípulo. Na única semeadura exitosa, a semente cai em boa terra,
germina, cresce e dá boa colheita. O
princípio espiritual que essa parábola ilustra é o seguinte: quem escuta-obedece
a Palavra de Jesus colhe os frutos dessa Palavra na vida. Assim sendo, para Marcos, o discípulo é aquele que
escuta a Palavra. Essa escuta da Palavra é sinônima da nossa disposição à
obediência.
Segunda
atitude: Para Lucas, o discípulo é aquele que se auto-humilha.
Um exemplo disso é a
“Parábola do Fariseu e do Publicano”, em Lucas 18:9-14. No verso 9, Jesus
anuncia o público alvo dessa parábola: alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam
os outros. Vale ressaltar que o anúncio do público alvo é uma característica
das parábolas de Lucas. Essa parábola contrasta dois personagens: o fariseu e o
publicano. O primeiro, o
fariseu, se exalta, apresentando a Deus seus méritos. Ele confia em sua justiça própria e despreza os outros. O segundo,
o publicano, se humilha, batendo no próprio peito. Ele é desprezado pelos
outros e confia única e exclusivamente na misericórdia de Deus. O princípio espiritual que essa
parábola ilustra é o seguinte: aquele que se exalta será humilhado e aquele se
humilha será exaltado. Consequentemente, para Lucas, o discípulo é aquele que se
auto-humilha. Essa auto-humilhação é condição para experimentarmos e para
manifestarmos a misericórdia.
Terceira
atitude: Para Mateus, o discípulo é aquele que pratica a justiça.
Um exemplo disso é a “Parábola do Juízo das Nações”, em Mateus 25:31-46. Essa parábola
é escatológica. Ela aponta para o fim da era presente, quando Jesus voltará em
glória. Ele voltará e julgará todas as nações e toda a humanidade. Nesse
julgamento, ele reunirá as nações e separará dentre elas as ovelhas e os bodes.
As ovelhas ficarão do lado direito e os bodes do lado esquerdo. O lado direito
é o lado da mão direita do Senhor, a mão da sua força, do seu poder e da sua
salvação. As ovelhas são justas e benditas, e receberão o Reino como herança. Elas
são benditas porque servem a Deus servindo as pessoas em suas necessidades. Ovelhas
são sensíveis. Os bodes são injustos e malditos, e receberão o fogo eterno,
preparado para o Diabo e seus anjos. Eles são malditos porque não servem a Deus
servindo as pessoas em suas necessidades. Bodes são insensíveis. O princípio espiritual que essa
parábola ilustra é o seguinte: os que servem a Jesus servindo as pessoas receberão
o Reino como herança. Então, para Mateus, o discípulo é aquele que pratica
a justiça. Essa prática da justiça é resultado do amor de Deus derramado em nossos
corações.
Que Deus, por sua graça, nos ajude a
segui-lo com integridade!
Luiz Felipe Xavier.
As próximas publicações serão sobre as parábolas de
Jesus.