Jesus é uma pessoa que, vez por outra,
envolve-se em controvérsias. No início do Evangelho de Marcos, encontramos as
chamadas “quatro controversas de Cafarnaum” (2:1-3:6). Na primeira, Jesus demonstra
que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados. Na segunda, ele
demonstra que esta autoridade estende-se ao publicano Levi (ou Mateus) e aos
seus amigos. Na terceira, ele demonstra que sua presença é semelhante a uma
festa de casamento, quando a alegria é tão grande que não faz sentido jejuar. Na
quarta, ele demonstra que é Senhor de tudo, até mesmo do sábado. Logo, Jesus revela-nos um Deus cheio de graça.
Mais especificamente em Marcos 2:13-17, essa graça expressa-se através de dois sinais.
O
primeiro sinal da graça é a inclusão que chama ao seguimento. Jesus está em Cafarnaum, no lago da
Galiléia, ensinando uma grande multidão. Cafarnaum é um povoado modesto, com
cerca de 600 a 1.500 habitantes. Em sua maioria, esses habitantes são
pescadores e camponeses. Nesse povoado de pescadores e camponeses, há dois
tipos de cobradores de impostos: os funcionários da aduana, que cobram das
caravanas, e os funcionários do cais, que cobram dos pescadores. Esses
cobradores de impostos são conhecidos como “publicanos”. No processo de
cobrança de impostos pelos publicanos, há extorsão e enriquecimento ilícito.
Assim, os publicanos são funcionários do Império Romano e opressores do povo de
Israel. Por isso, um judeu publicano é considerado como um traidor e um inimigo;
é odiado e marginalizado.
Ali, em Cafarnaum, Jesus passa pela
coletoria de um publicano chamado Levi e lhe diz: “Siga-me”. Imaginemos esta
cena... Jesus passa com Simão, André, Tiago e João, pescadores oprimidos que odeiam
Levi e, num gesto totalmente inclusivo, o chama ao seguimento. Fato é que, seguindo
os passos de Jesus, Levi será totalmente transformado.
Neste singelo “siga-me” de Jesus observamos
que a graça de Deus é totalmente inclusiva. Ela alcança todo e qualquer tipo de
pessoa. Observamos também que a graça de Deus nos chama ao seguimento de Jesus.
Nesse seguimento, todo e qualquer tipo de pessoa pode ser transformado. Isso
porque a graça que nos acolhe como somos é incapaz de nos deixar da mesma
forma. Ela é uma graça transformadora.
O
segundo sinal da graça é o perdão que chama à comunhão. O texto segue e, numa refeição na
casa de Levi, muitos publicanos e “pecadores” estão à mesa com Jesus e seus
discípulos. Os publicanos nós já conhecemos. Quem são os “pecadores”? Eles são
pessoas de má fama, pessoas que se recusam a seguir a lei mosaica, tal como
interpretada pelos mestres da lei. Jesus assenta-se à mesa com esses publicanos
e “pecadores”. Ser recebido em uma mesa com o propósito de comer com outra
pessoa é uma cerimônia ricamente simbólica de amizade, intimidade e unidade. Jesus
assenta-se à mesa com este tipo de gente como um amigo. Não é sem razão que ele
é chamado de “comilão e beberrão, amigos de publicanos e pecadores” (Lc. 7:34).
É muito interessante notar que Jesus é amigo destas pessoas antes mesmo de
vê-las transformadas.
Vendo Jesus à mesa com publicanos e
“pecadores”, os mestres da lei, que eram fariseus, perguntam aos discípulos dele:
“Por que ele come com publicanos e pecadores?”. Os fariseus ou “os separados” concebem
a pessoa de Deus como totalmente santo e totalmente separado dos pecadores.
Eles esperam por uma grande festa messiânica, da qual participarão somente os
separados dos pecados e dos pecadores no tempo presente. Para os fariseus, este
banquete final simboliza a grande salvação de Israel. Assim sendo, ouvindo a
pergunta desses mestres da lei, Jesus afirma que não são os que têm saúde que
precisam de médico, mas sim os doentes. Ele diz também que não vem chamar os justos,
porém, os pecadores. Os que têm saúde são aqueles que se consideram justos ao
passo que os doentes são aqueles que se consideram pecadores. Para esses
doentes-pecadores, e só para eles, há perdão e comunhão. Então, Jesus está
oferecendo o banquete da salvação aos marginalizados pelos religiosos do seu
tempo.
Neste simbólico assentar-se à mesa de
Jesus, observamos que a graça de Deus é totalmente perdoadora. Ela perdoa todo
e qualquer tipo de pecado. Observamos também que a graça de Deus nos chama a
comunhão com todo e qualquer tipo de pecador. Nessa comunhão, nossa referência
é a santidade do próprio Jesus, aquele, sem acepção, chama à sua mesa todo tipo
de gente.
Que Deus nos ajude a sinalizar sua
maravilhosa graça neste mundo!
Luiz Felipe Xavier.