“Portanto,
se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis
que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou
consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou
seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em
conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação.
Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu
apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo suplicamos: Reconciliem-se com
Deus. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos
tornássemos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:17-21NVI)
Uma Igreja relevante para a sociedade...
Mas de qual Igreja estamos falando? Estamos falando da Igreja de Jesus Cristo. Esta
Igreja é formada por aqueles que ouviram e creram no Evangelho do Reino de
Deus. Basicamente, este Evangelho diz que o Pai tem um plano de reconciliação.
Tal reconciliação é necessária porque houve rupturas. No início da história,
o ser humano rompe com Deus, rompe consigo mesmo, rompe com o próximo e rompe
com a criação. Esta é a extensão do que chamamos “queda”.
O Evangelho diz também que o Filho
realiza este plano de reconciliação na história. Ele deixa a sua glória eterna
e se esvazia; ele se faz homem e vive entre nós como um servo humilde; ele
anuncia a proximidade ou acessibilidade do Reino de Deus e sinaliza
concretamente este Reino; ele é movido por amor compassivo e anda por toda
parte fazendo o bem a todos; ele morre injustamente numa cruz e ressuscita três
dias depois; ele vive e voltará para tornar plena a reconciliação que já
começou. Jesus é, portanto, o centro da reconciliação.
O Evangelho diz ainda que o Espírito Santo
atualiza e dinamiza este plano hoje. Ele age na história, reconciliando pessoas
com Deus, consigo mesmas, com o próximo e com a criação. Uma vez reconciliadas,
essas pessoas tornam-se parte da Igreja, vitrine da reconciliação. Mais do que a
ser vitrine, a Igreja é chamada a ser agência da reconciliação em realidades
ainda marcadas pelas rupturas humanas. Logo, enquanto todas as coisas não estiverem reconciliadas com o Pai, em
Cristo, a Igreja, no poder do Espírito Santo, está em missão na sociedade. Esta
missão foi, é e sempre será a reconciliação. Vale sublinhar que, uma vez que as
rupturas são integrais, a missão de reconciliação da igreja na sociedade também
é integral.
Mas de qual sociedade estamos falando? Da
nossa. Vivemos numa sociedade desigual. Existem muitos pobres e poucos
ricos. Só para termos uma idéia, no fim de 2016, estima-se que 1% da população
mundial terá mais riqueza que os 99% restantes. Vivemos numa sociedade violenta. Existe muita guerra e pouca
paz. A América Latina tem 9% da população mundial e é responsável por 33% dos
assassinatos do mundo. No Brasil, esses assassinatos são, principalmente, de jovens
pobres e negros. Vivemos numa sociedade paradoxal.
Existe muito mais formação profissional do que existia num passado recente e
ainda existe pouca qualificação profissional como demandará um futuro próximo.
Em nosso país, embora a taxa de desemprego ainda esteja baixa, 8,2%, os jovens
são aqueles que têm mais dificuldades de se inserir no mercado de trabalho.
Vivemos numa sociedade consumista.
Existe muita busca pelo ter e pouca busca pelo ser. Neste contexto, infelizmente,
o desejo sobrepõe-se à necessidade. Vivemos numa sociedade globalizada. Existe muita informação e pouca crítica. Se antes o
problema era o acesso à informação, hoje o problema é a seleção da informação.
Também vivemos numa sociedade conectada. Existe muita virtualidade e
pouca realidade. Estamos vivendo a era das chamadas redes sociais, com todos os
seus malefícios e benefícios. Vivemos numa sociedade polarizada. Existe muito ódio e pouco amor. Os extremos da direita
e da esquerda estão cada vez mais acentuados e a tensão nos relacionamentos
cresce. Vivemos numa sociedade perdida.
Existe muita ação e pouca direção. Palavras como “significado”, “sentido” e
“liderança” estão entrando em extinção. Vivemos numa sociedade pluralista. Existe muitos relativos e
poucos absolutos. Tal realidade se configura tanto como um desafio quanto como
uma oportunidade. Vivemos numa sociedade sincrética.
Existe muita religiosidade e pouca espiritualidade. Neste contexto, somos
chamados ao relacionamento com o Pai, baseado nos méritos do Filho, através do
Espírito Santo.
Por fim, como a Igreja de Jesus Cristo
pode ser relevante para a sociedade atual? Quero trazer duas propostas. A primeira é a prática da chamada
“Hermenêutica Contextual”. Precisamos ouvir as perguntas que estão sendo
feitas na sociedade que nos cerca. De posse dessas perguntas, precisamos nos
dirigir à Escritura e procurar nela as respostas. Tendo encontrado as
respostas, precisamos retornar à nossa sociedade e proclamá-las, com palavras e
ações. Como a sociedade é dinâmica, este movimento circular torna-se constante.
A
segunda proposta é o exercício da vocação pessoal. A nossa vocação diz
respeito à maneira como servimos a Deus, servindo à sociedade. Uma das formas
de expressarmos este serviço é através do nosso trabalho. O nosso trabalho, por
sua vez, deve ser uma ação a partir de dois olhares: um olhar para dentro, para
as nossas habilidades; e um olhar para fora, para as necessidades que nos
cercam. É somente desta maneira que a nossa vocação, expressa pelo nosso
trabalho, redundará em realização pessoal e relevância social.
Que Deus, por sua graça, nos ajude a ser uma Igreja relevante para a sociedade! Que, para tal, possamos praticar a “Hermenêutica
Contextual” e exercitar a nossa vocação pessoal!
Luiz Felipe Xavier.